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    Devotos enfrentam calor e cansa�o para pagar promessas em Aparecida

    GABRIELA S� PESSOA
    EDUARDO KNAPP
    ENVIADOS ESPECIAIS A APARECIDA (SP)

    12/10/2017 17h14

    Todos os anos, Nelson Martins, 63, carrega sua cruz. Desta vez, ele saiu de sua casa em Santa Branca a p�, sand�lias nos p�s e uma mochila pequena nas costas, na segunda (9). Nesta quinta (12), estava a 7 km de seu destino, Aparecida, quando a Folha o encontrou na via Dutra.

    "J� escapei de muito na vida, Nossa Senhora j� salvou minha vida", ele dizia, desacelerando o passo, arrastando a cruz de 1,80 metro nos ombros.

    Explicava que o esfor�o, repetido anualmente h� mais de uma d�cada, n�o agradecia nenhuma gra�a espec�fica nem pedia nada especial � Santa. Ele conta que o pai reapareceu depois de sua primeira romaria, em 2007. Estava havia 20 anos desaparecido.

    Como Martins, a reportagem encontrou peregrinos que v�m a Aparecida anualmente, para agradecer "por tudo". Ningu�m com quem a Folha conversou era devoto de primeira viagem.

    O gerente Jovair Ferreira, 33, embarcou com mulher e filho em Monte Carmelo, cidade do tri�ngulo mineiro, na ter�a (10). Doze horas de viagem depois, chegaram a Aparecida, como fazem todos os anos.

    Deitados sobre uma toalha no ch�o, o casal tomava um sorvete de Itu (picol� gigantesco sabor napolitano, uma iguaria de Aparecida) enquanto contava � reportagem que a prociss�o � s� por agradecer "por tudo", genericamente. Tinham acabado de assar um churrasco, n�o inclu�do no pacote de R$ 250 que d� direito a passagem de �nibus e refrigerante.

    A organiza��o do Santu�rio Nacional esperava 200 mil pessoas para este 12 de outubro, celebra��o do Jubileu de 300 Anos de Nossa Senhora Aparecida. At� as 12h desta quinta, 155 mil compareceram, segundo a entidade. No ano passado, durante todo o dia, foram 140 mil.

    Al�m de cruzes, romeiros carregam consigo ofertas de toda sorte a Aparecida: imagens da Santa, roupas, miniaturas de carro, r�plicas de parte do corpo humano.

    No fim da tarde desta quinta, F�tima Aparecida de Paula ("Minha m�e era muito devota", ela explica, sorridente, o nome duplo de santas), 60, depositou no balc�o da Sala das Promessas uma imagem antiga de Nossa Senhora Aparecida.

    "Era da minha m�e. Ela teve essa imagem a vida toda e morreu faz quatro anos, era um pedido dela que eu trouxesse aqui", conta F�tima, que emenda: "E eu recebi uma Gra�a muito especial, saiu minha aposentadoria!"

    ROMEIROS

    Segundo a CCR, concession�ria que administra a Dutra, 18 mil romeiros vieram a p� at� Aparecida desde 1� de setembro -s� nesta quinta, da meia-noite �s 11h, foram 8.500.

    No meio da estrada, volunt�rios como o casal Vinicius e Rose distribu�am garrafas de �gua gelada e caf� aos caminhantes. "Sa� do desemprego em maio, o m�s dela [Nossa Senhora]", ele conta.

    Os devotos chegavam de toda forma � cidade religiosa: descal�os, de sand�lias crocs. Havia tamb�m quem viesse de bicicleta.

    "� muita f�!", berrava um ciclista sorridente de bra�os abertos, levando no peito uma estampa da santa, ao cruzar a ponte que conduz at� a entrada principal da cidade.

    Quando cruzou o portal que indica a entrada da cidade, Josane Boechat disse que sentiu uma "lavagem de luz". Carioca, ela andou por 14 dias, acompanhada por duas amigas, desde Atibaia.

    "Chorei mesmo", conta Josane. A romaria era tamb�m a comemora��o de seu anivers�rio de 59 anos, completados nesta quinta (12).

    Em comum, todos os fi�is aparentam um cansa�o extremo, mas menor que a devo��o. Perto das 7h30, igreja lotada, um padre celebrava uma das primeiras missas do dia e puxou o c�ntico: "M�ezinha do c�u, eu n�o sei rezar...".

    Sentados nos bancos, deitados ch�o, encostados nas colunas, ainda havia f�lego para cantar a uma s� voz: "Eu s� sei dizer, eu quero te amar".

    Fora do templo, havia filas por todos os lugares -o movimento refluiu consideravelmente ap�s as 14h. Era preciso esperar para comprar velas, para acend�-las, para ver a imagem de Aparecida de perto (pela manh�, levava-se no m�nimo tr�s horas) e para comer.

    Sob o sol de 30�C, houve quem n�o resistisse at� a eucaristia na missa solene. Bombeiros circularam com cadeiras de rodas pela multid�o, atendendo quem passava mal -a reportagem viu tr�s casos. Segundo a organiza��o, foram mais de 300 atendimentos m�dicos, a maioria relacionados a mal estar, press�o baixa ou desmaios em raz�o do calor.

    POL�TICOS E PAPA

    V�deo papa

    A aus�ncia de pol�ticos foi sentida em Aparecida. A organiza��o convidou autoridades, incluindo o presidente Michel Temer (PMDB) -que gravou um v�deo lembrando a data e enviou o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB), para represent�-lo.

    "Se eu fosse presidente do Brasil, eu viria, n�o �?", disse o reitor do Santu�rio Nacional, padre Jo�o Batista, a jornalistas, ap�s a missa campal. "Eu acho que � uma quest�o at� de assessoria. Vai ver os assessores n�o atentaram pra isso. Olha, � a padroeira do Brasil. � algo importante. Mas a gente respeita", afirmou o sacerdote.

    Batista citou como exce��o o governador Geraldo Alckmin (PSDB), declaradamente cat�lico, que disse frequentar Aparecida desde quando era prefeito da vizinha Pindamonhangaba. Alckmin levou seus secret�rios, Rodrigo Garcia (habita��o) e Samuel Moreira (Casa Civil). Sentou-se na primeira fila durante a missa solene, realizada na �rea externa do santu�rio.

    As autoridades foram vaiadas brevemente pelos fi�is, quando foram anunciadas no in�cio da cerim�nia. "N�o ouvi vaia nenhuma", respondeu Alckmin, quando questionado sobre a manifesta��o do p�blico.

    Al�m de autoridades pol�ticas, faltou o papa Francisco na celebra��o. Em 2013, quando esteve em Aparecida, ele prometeu que viria para os 300 anos da padroeira. Em v�deo, ele falou que o brasileiro precisa ter f� contra a corrup��o.

    "N�o se deixem vencer pelo des�nimo", disse o papa, que repetiu a frase: "N�o se deixem vencer pelo des�nimo. Confiem em Deus."

    "O Brasil hoje necessita de homens e mulheres cheios de esperan�a e firmes na f�, que deem testemunho de que o amor manifestado na solenidade e na partilha � mais forte e luminoso que as trevas do ego�smo e da corrup��o", disse.

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