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    Por gostar de elefantes, Trump veta importa��o de trof�us de ca�a

    PETER BAKER
    EMILY COCHRANE
    DO "NEW YORK TIMES"

    21/11/2017 12h20

    Martin Bureau - 17.nov.2012/AFP
    Elefante no Parque Nacional Hwange, no Zimb�bue
    Elefante no Parque Nacional Hwange, no Zimb�bue

    Talvez tenha sido a lembran�a de uma visita ao zool�gico na inf�ncia. Talvez tenha sido um senso de lealdade para com o animal que serve de s�mbolo ao seu partido pol�tico (nos EUA, o Partido Republicano � representado por um elefante, enquanto o Partido Democrata tem como s�mbolo um burro).

    Mas a surpreendente interven��o do presidente Donald Trump para tentar salvar os elefantes do Zimb�bue atraiu elogios de todo o espectro pol�tico - e a quest�o de o que o levou a faz�-lo se tornou o proverbial paquiderme na sala.

    No que pode ter sido um dos mais curiosos momentos de seu primeiro ano como presidente, Trump suspendeu subitamente uma nova regra federal que teria permitido que ca�adores levassem aos Estados Unidos "trof�us" de elefantes mortos no Zimb�bue, e definiu a ca�a como "um show de horrores" que n�o ajuda a causa da conserva��o.

    "Houve choque por o presidente e seu governo terem revertido uma decis�o sobre os trof�us de ca�a, como ele fez", disse Tanya Sanerib, advogada s�nior do Centro pela Diversidade Biol�gica, que luta pela prote��o de esp�cies amea�adas de extin��o. "Mas h� algo nos elefantes que supera as divis�es entre partidos. Eles afetam as pessoas."

    Assessores do presidente disseram que esse � basicamente o motivo da decis�o. Ele gosta de elefantes. Trump n�o sabia da decis�o de seu governo de suspender a proibi��o � entrada de trof�us at� que a not�cia surgiu na m�dia, e ficou irritado por ser criticado com rela��o a uma medida sobre a qual nem estava informado. Por isso, expressou seu desprazer da maneira que vem fazendo ao longo do ano: por meio de sua conta no Twitter.

    A decis�o de Trump coincide com os sentimentos de personalidades conservadoras da m�dia, como Michael Savage, Laura Ingraham e Mike Cernovich, que defenderam Trump em uma torrente de controv�rsias este ano mas protestaram contra o an�ncio inicial da medida pelo governo.

    "Foi uma decis�o absurda", disse na segunda-feira (20) Ingraham, apresentadora do canal de not�cias Fox News, que foi considerada para um posto no governo Trump. "Quem atiraria nessas criaturas majestosas?" Ingraham se define como "conservacionista", e j� visitou Botsuana tr�s vezes, a mais recente das quais nas f�rias de ver�o deste ano, com seus filhos.

    O governo do presidente Barack Obama proibiu a importa��o de trof�us de ca�adas de elefantes do Zimb�bue e Z�mbia, em 2014, afirmando que n�o havia dados sobre as medidas de conserva��o dos elefantes nesses dois pa�ses. Qualquer por��o do corpo do elefante, o que inclui suas presas, pode ser enquadrada como trof�u. O governo Obama seguiu essa medida com uma proibi��o quase total ao com�rcio de marfim extra�do de elefantes africanos, em 2016. Essa norma n�o foi alterada.

    Os dois pa�ses africanos v�m enfrentando dificuldades para manter ou elevar sua popula��o de elefantes, de acordo com o Great Elephant Census, um recenseamento de animais financiado por Paul Allen, um dos fundadores da Microsoft. O projeto constatou que a popula��o de elefantes africana caiu em quase 30% entre 2007 e 2014.

    O Servi�o de Pesca e Fauna dos Estados Unidos, supervisionado por Ryan Zinke, o secret�rio do Interior, determinou que Z�mbia e Zimb�bue haviam adotado planos aceit�veis para a administra��o de suas popula��es de elefantes. O servi�o suspendeu sua proibi��o de importa��o de trof�us da Z�mbia no come�o do m�s, e havia come�ado na sexta-feira (17) a aceitar licen�as para elefantes ca�ados no Zimb�bue.

    Mas a medida foi cancelada na noite de sexta-feira, quanto aos dois pa�ses africanos, depois de Trump anunciar sua inten��o de revisar a decis�o. "Vamos suspender a decis�o sobre os trof�us de ca�a at� que eu possa revisar todos os fatos quanto � conserva��o", ele escreveu. "Isso est� em estudo h� anos. Logo terei informa��es do secret�rio Zinke. Obrigado!"

    No domingo (19), Trump postou uma mensagem mais espec�fica: "Decis�o sobre trof�us de ca�a ser� anunciada na semana que vem, mas dificilmente mudarei de ideia sobre o fato de que esse show de horrores n�o ajuda a conserva��o de elefantes ou de qualquer outro animal", ele escreveu.

    Trump n�o � ca�ador, ao contr�rio de seus filhos, Donald Jr. e Eric. Em 2012, foram postadas online fotos de ambos posando ao lado de diversas presas, em uma ca�ada no Zimb�bue. Uma das fotos mostrava Donald Trump Jr. com uma faca em uma m�o e uma cauda de elefante na outra.

    Donald Trump Jr. declarou na �poca que a ca�ada era legal, e que saf�ris como aquele na verdade ajudavam a preservar a fauna ao prover incentivos para que os moradores locais preservem as popula��es de animais de ca�a.

    Segundo Trump Jr., ele e seu irm�o haviam come�ado a ca�ar por influ�ncia de seu av� materno. O pai deles, cidad�o urbano por toda a vida, "n�o entende porque Eric e eu ca�amos", ele acrescentou. "Mas � um cara de mente aberta e sempre nos permitiu ca�ar".

    J� Lara Trump, a mulher de Eric, se tornou defensora aberta dos direitos dos animais, e a Humane Society (sociedade protetora dos animais) norte-americana disse que ela pediu aten��o do Congresso � quest�o dos trof�us de ca�adas de elefante, na quinta-feira (16). Ela e o marido visitaram a Casa Branca na sexta-feira, mas assessores do presidente disseram n�o saber se a quest�o das ca�adas foi parte da conversa.

    Trump estava certamente sendo criticado quanto ao an�ncio de que a proibi��o � importa��o de trof�us seria suspensa. Savage, apresentador de r�dio que defende Trump com tamanha veem�ncia que amea�ou os democratas de guerra civil caso o presidente seja deposto, ficou indignado. "Homens corajosos ca�am elefantes?", ele perguntou aos seus seguidores no Twitter.

    Cernovich, conhecido por alimentar teorias de conspira��o contra os progressistas na internet, postou fotos que o mostravam acariciando elefantes, no Twitter, e escreveu que "essas animais m�gicos mudar�o sua vida, se voc� abrir o cora��o".

    Do outro lado, a NRA (Associa��o Nacional do Rifle, na sigla em ingl�s), organiza��o norte-americana de defesa do direito ao porte de armas que tamb�m � partid�ria de Trump, havia elogiado a revoga��o da proibi��o, definindo-a como "passo significativo para que a ca�a receba o reconhecimento que merece como ferramenta de administra��o da fauna".

    Tradu��o de PAULO MIGLIACCI

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