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    Absolvi��o de militares por Opera��o Condor decepciona parentes

    FERNANDA CANOFRE
    COLABORA��O PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    27/02/2017 02h00

    D�cadas depois do fim das ditaduras militares na Am�rica do Sul, 19 militares foram absolvidos da acusa��o de participar da Opera��o Condor —coopera��o entre os governos autorit�rios de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Uruguai— ap�s julgamento na It�lia.

    A senten�a foi lida no m�s passado pela ju�za Evelina Canale, em Roma, diante da desola��o de parentes de mortos e desaparecidos que tinham cidadania italiana. O vice-presidente do Uruguai, Ra�l Sendic, filho do l�der tupamaro hom�nimo preso por 13 anos, estava entre eles.

    Filippo Monteforte - 17.jan.2017/AFP
    Parentes de v�timas com cidadania italiana choram ap�s absolvi��o de militares da Opera��o Condor
    Parentes de v�timas com cidadania italiana choram ap�s absolvi��o de militares da Opera��o Condor

    Ao final, apenas oito dos 33 homens acusados foram condenados –outros seis morreram durante o decorrer de 19 anos de processo. Entre os condenados � pris�o perp�tua est�o dois ex-presidentes —o peruano Francisco Morales Berm�dez Cerruti (1975-1980) e o boliviano Luis Garc�a Meza Tejada (1980-1981)—, um general, dois coron�is, um chanceler e o encarregado dos servi�os secretos do Peru.

    O caso come�ou a correr na corte europeia em 1998, quando parentes de 25 argentinos e uruguaios com nacionalidade italiana, desaparecidos pelas m�os de ditaduras latino-americanas, moveram a��o pedindo justi�a que nunca conseguiram ter nas cortes da Am�rica do Sul.

    Por aqui, os crimes nunca foram investigados, e os torturadores viveram impunes depois do fim dos regimes.

    'CA�ADOR'

    A 11 mil quil�metros de dist�ncia do Tribunal de Roma, em um discreto escrit�rio na Avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, Jair Krischke acompanhou incr�dulo a conclus�o do caso.

    Conhecido como "ca�ador de torturadores", o historiador e l�der do Movimento de Justi�a e Direitos Humanos trabalhou durante anos assessorando o processo montado pelo promotor italiano Giancarlo Capaldo.

    Foi Krischke quem ajudou a localizar v�rios dos nomes de agentes da repress�o acusados pelos crimes, anos depois do fim das ditaduras.

    "Foi um desastre, e a senten�a � incompreens�vel. Foram condenados os 'mandantes' e absolveram os executores. Isso � uma coisa absurda", afirma ele, sem esconder a indigna��o na voz.

    "� como se em Nuremberg tivessem condenado s� [Adolf] Hitler e absolvessem todos os outros", diz, numa refer�ncia ao tribunal que julgou crimes nazistas ap�s a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

    Havia "insufici�ncia de provas" para a condena��o daqueles que obedeciam �s ordens, segundo a senten�a.

    Krischke chegou a depor formalmente � corte em 2016. Segundo ele, houve problemas na tradu��o dos documentos durante o processo. Uma tradutora, por exemplo, confundiu o termo "Opera��o Condor" com uma atividade comercial entre empresas multinacionais.

    A coopera��o entre as ditaduras para sequestrar, torturar, matar e desaparecer pessoas que se opunham aos regimes vigentes, com apoio da CIA (ag�ncia de intelig�ncia americana), foi assinada secretamente em Santiago, em 1975, e batizada com o nome do abutre dos Andes.

    BRASILEIROS JULGADOS

    Tr�s militares brasileiros ainda v�o a julgamento na mesma corte. S�o eles: Jo�o Osvaldo Leivas Job, Carlos Alberto Ponzi e �tila Rohrsetzer. No in�cio do processo, 13 brasileiros chegaram a ser apontados como respons�veis pelos crimes.

    No entanto, dez deles morreram sem chegar ao banco dos r�us –incluindo o �ltimo presidente do per�odo militar, Jo�o Baptista Figueiredo (1918-1999). O �ltimo deles, �nico civil indiciado nos casos, o delegado Marco Aur�lio da Silva Reis, chefe do Dops no Rio Grande do Sul, morreu em junho passado.

    A previs�o � que o julgamento dos brasileiros ocorra em setembro. Como seus nomes foram anexados tarde ao processo, em fevereiro de 2016, o promotor decidiu separ�-los dos demais para n�o atrasar ainda mais o tr�mite.

    Uma das dificuldades foi o fato de o Brasil nunca ter investigado esses crimes, nem aberto documentos do per�odo da ditadura. A pena pedida pela Promotoria italiana, assim como nos demais casos, � de pris�o perp�tua.

    Ap�s a senten�a, os promotores Giancarlo Capaldo e Tiziana Cugini sa�ram sem dar declara��es. Eles s� dir�o se recorrem ou n�o quando a argumenta��o da ju�za for publicada –o prazo m�ximo � de 90 dias. Na It�lia, primeiro o juiz d� o veredicto e s� 3 meses depois o justifica.

    Para Jair Krischke, a absolvi��o da maior parte dos acusados ainda n�o � o fim. "Eu acho que v�o [recorrer] por uma raz�o singela: h� um clamor. E a pr�pria justi�a italiana sentiu isso".

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