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    Dez a��es diretas de mulheres que mudaram o mundo

    BIDISHA
    DO "GUARDIAN"

    22/10/2015 13h40

    Desde que o mundo � desigual, e que os governos permitem que a desigualdade flores�a, mulheres v�m protestando. N�s realizamos marchas de protesto e greves de fome, escrevemos cartas e propusemos leis, e deixamos de lado as vias convencionais para conscientizar e expressar nossa raiva.

    Pouco mais de um s�culo atr�s, a campanha para conferir o direito de voto �s mulheres no Reino Unido estava chegando a seu pico de radicalismo, e mulheres perturbavam reuni�es p�blicas, se algemavam a grades e destru�am obras de arte e o patrim�nio p�blico.

    No come�o deste m�s, na estreia do filme "Suffragette", manifestantes feministas protestaram no tapete vermelho em defesa do direito da mulher � provis�o de ref�gios.

    Euan Cherry - 7.out.2015/Xinhua
    Manifestantes protestam na tapete vermelho de estreia do filme "Suffragette"
    Manifestantes protestam na tapete vermelho de estreia do filme "Suffragette"

    A a��o direta e os protestos das mulheres mudaram o mundo –como a greve das operadoras de m�quinas pesadas na f�brica da Ford em Dagenham, Inglaterra, em 1968, que levou � hist�rica Lei de Igualdade no Sal�rio de 1970. Eis alguns dos melhores exemplos, em um s�culo de campanhas.

    1. Sexta-Feira Negra, 18 de novembro de 1910
    As ativistas que apelavam pelo sufr�gio feminino marcharam at� a C�mara dos Comuns do Parlamento brit�nico a fim de protestar contra a hostilidade do primeiro-ministro Herbert Asquith ao direito de voto para a mulher.

    Em rea��o, dezenas de policiais as espancaram, agrediram, molestaram sexualmente e humilharam. A plena dimens�o da viol�ncia sancionada pelo Estado dos homens contra a mulher foi explicitada, e as sufragistas retaliaram com uma campanha de quebra de vitrines e ataques ao patrim�nio, pela qual terminaram encarceradas.

    Suas t�ticas funcionaram e, depois de uma suspens�o do ativismo durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres brit�nicas conquistaram o direito parcial de votar em 1918, e direitos plenos uma d�cada mais tarde.

    2. Miss Am�rica, 7 de setembro de 1968
    Em Atlantic City, centenas de feministas norte-americanas se reuniram para protestar contra o mercado da carne dos concursos de beleza, o que resultou em um dos mais engra�ados, mas tamb�m mais imprecisos, mitos fundadores da segunda onda do feminismo, o da queima dos suti�s pelas mulheres para simbolizar sua emancipa��o do patriarcado.

    Qualquer pessoa que tenha tentado queimar um suti� –especialmente aqueles modelos pesados, opacos e cor da pele que existiam no p�s-guerra– sabe que eles n�o queimam muito bem. As arma��es dos suti�s foram arrancadas e jogadas nas Latas de Lixo da Liberdade, em companhia de sapatos de salto alto, c�lios posti�os, c�pias das revistas "Cosmopolitan" e "Playboy", panelas, esfreg�es e frigideiras –itens que as manifestantes descreviam como "instrumentos de tortura � mulher".

    O protesto deu origem a uma nova onda de cr�ticas a uma s�rie de coisas, como a objetifica��o da mulher e a feminilidade perform�tica, os ideais de beleza e a explora��o do trabalho caseiro, e essa vis�o da quest�o terminou incorporada � cultura.

    3. Isl�ndia, 24 de outubro de 1975
    Estimuladas pelo ativismo do Meias Vermelhas, um grupo feminista radical, 90% das mulheres da Isl�ndia fizeram greve nesse dia contra a explora��o do trabalho dom�stico gratuito da mulher pelos homens, e do trabalho feminino em geral –mal pago, mal reconhecido e mal recompensado com promo��es.

    Por um dia, elas n�o trabalharam e se recusaram a cuidar das tarefas dom�sticas e das crian�as, e a limpar e administrar as casas. A Isl�ndia ficou paralisada, como ficaria qualquer outro pa�s em que isso acontecesse.

    A greve demonstrou at� que ponto a sociedade funciona com base em trabalho pelo qual as mulheres n�o recebem cr�dito. Passados mais de 30 anos, a Isl�ndia � renomada como um dos pa�ses mais igualit�rios do planeta. Talvez todas n�s dev�ssemos aprender com o Meias Vermelhas.

    4. Willesden, Londres Norte, 1976-1978
    Em um protesto que exp�s preconceitos de ra�a e idade e a misoginia do movimento sindical, bem como a explora��o da m�o de obra imigrante pela ind�stria, Jayaben Desai liderou protestos das empregadas do laborat�rio fotogr�fico Grunswick Film Processing, em sua maioria mulheres, maduras e de origem leste-africana ou asi�tica.

    As greves resultaram em violentos ataques pela pol�cia, mas em longo prazo a for�a das trabalhadoras asi�ticas criou um desafio para o movimento sindical e promoveu maior diversidade, demonstrando ao governo e � m�dia o poder dos trabalhadores unidos para defender seus direitos.

    5. Afeganist�o, maio de 2007
    A l�der pol�tica Malalai Joya recebeu todo o peso da condena��o patriarcal ao denunciar os l�deres de mil�cias e criminosos de guerra com os quais precisava dividir o espa�o pol�tico do Legislativo afeg�o, e se pronunciou contra o apoio dos aliados ocidentais � lideran�a do ent�o presidente Hamid Karzai.

    Por sua bravura, ela foi privada de seu papel pol�tico, apesar do apoio de ativistas de todo o mundo. Ainda assim, o fato de que ela tenha se pronunciado colocou em quest�o a aprova��o ocidental t�cita a Karzai e desafiou a imagem ocidental da mulher afeg� como passiva e simp�tica ao regime. Isso fez de Joya um exemplo para a dissens�o pol�tica em seu pa�s.

    6. Mangalore, �ndia, fevereiro de 2009
    Depois que diversas mulheres que estavam se divertindo em um bar no dia dos namorados foram perseguidas, espancadas e chutadas por uma gangue de homens, alguns dos quais gravaram em v�deo o ataque, um grupo intitulado Cons�rcio das Mulheres F�ceis e Avan�adas que V�o a Bares descobriu uma nova maneira de expressar apoio �s mulheres e ridicularizar os agressores e aqueles que os defendiam.

    A campanha "Pink Chaddi" enviou como presente de dia dos namorados milhares de enormes calcinhas cor de rosa ao movimento conservador Sri Ram Sena, ao qual alguns dos agressores afirmavam pertencer. O objetivo era voltar contra os agressores toda a vergonha sexual, humilha��o e menosprezo que eles desejavam instilar em suas v�timas. Quando palavras de protesto n�o funcionam, �s vezes uma calcinha gigante e cor de rosa diz o necess�rio.

    7. Kampala, Uganda, fevereiro de 2014
    A lei do governo ugandense para culpar as v�timas ao proibir "roupas indecentes", conhecida em tom de zombaria como "lei da minissaia", submeteu mulheres a agress�es de homens que as despem na rua, e ainda as culpam pela viol�ncia que sofrem.

    Os protestos das mulheres contra isso inclu�ram canto, dan�a, minissaias e cartazes que proclamavam "meu corpo, meu dinheiro, meu arm�rio, minhas regras". A despeito do governo repressivo, respons�vel por novas leis homof�bicas e mis�ginas, a resist�ncia das ativistas de base est� crescendo.

    8. Lima, Peru, 7 de mar�o de 2014
    As feministas do Peru se vestiram de vermelho e se deitaram na rua diante do Minist�rio da Mulher.

    A manifesta��o era uma celebra��o dos corpos das mulheres abusadas no pa�s, que n�o recebem justi�a ou reconhecimento, e simbolizava que o governo estava espezinhando os direitos da mulher. A linha formada pelas mulheres a um s� tempo parecia uma linha simb�lica de limite –n�o aceitaremos mais– e tamb�m uma exposi��o da vulnerabilidade das mulheres quando o direito a prote��o contra a viol�ncia n�o � honrado pelos l�deres pol�ticos.

    9. Pequim, China, mar�o de 2015
    O movimento feminista vem realizando jogadas astutas na capital chinesa, a despeito da repress�o policial e da sabotagem. Este ano, um grupo de cinco "guerrilheiras terroristas" foi detido antes de protestos planejados para o Dia Internacional da Mulher.

    O foco do protesto era a atitude do pa�s quanto � viol�ncia do homem contra a mulher, ass�dio sexual e viol�ncia sexual, e a manifesta��o mais not�vel foi uma parada de mulheres usando vestidos de noiva brancos e ensanguentados.

    Al�m da defesa desses direitos humanos fundamentais, tamb�m existe um florescente movimento "fazer acontecer", inspirado pelo livro de Sheryl Sandberg e liderado por mulheres jovens e ambiciosas que pela primeira est�o tendo de enfrentar o sexismo empresarial e do mercado de trabalho.

    10. Londres, 7 de outubro de 2015

    No come�o do m�s, na estreia do filme "Suffragette", ativistas do grupo Sisters Uncut atravessaram as barreiras de seguran�a e protestaram contra o corte de servi�os do governo �s sobreviventes da viol�ncia dom�stica e da viol�ncia sexual masculina.

    Espero que elas atinjam seus objetivos imediatos de servi�os adequados e protegidos, e dotados de verbas suficientes, para as v�timas e sobreviventes. E espero que a longo prazo, em todo o mundo, consigamos nossos objetivos de um mundo livre de desigualdade, explora��o e viol�ncia masculina.

    Tradu��o de PAULO MIGLIACCI

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