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    CR�TICA

    Viagem de brasileiro pela �frica inspira 'Gabriel e a Montanha'

    IN�CIO ARAUJO
    CR�TICO DA FOLHA

    22/10/2017 01h00

    Divulga��o
    Caroline Abras e Jo�o Pedro Zappa no filme "Gabriel e a Montanha"
    Caroline Abras e Jo�o Pedro Zappa em cena de "Gabriel e a Montanha", que estreia em 2 de novembro

    GABRIEL E A MONTANHA (�timo)
    DIRE��O Fellipe Barbosa
    ELENCO Jo�o Pedro Zappa, Caroline Abras, Leonard Siampala
    PRODU��O Brasil, 2017
    Veja salas e hor�rios de exibi��o.
    p(star). *

    Uma impress�o fugaz ao ver "Gabriel e a Montanha": parece um "Hatari" p�s-colonialista. A impress�o vem da bela corrida de uma girafa, quando Gabriel est� num �nibus. No cl�ssico filme de Howard Hawks tamb�m h� uma bela corrida de girafas. Mas ali os ca�adores brancos buscam la��-las para enviar a um zool�gico.

    O mundo se transforma. N�o inteiramente, mas se transforma. Hoje Gabriel, o jovem brasileiro que peregrina pela �frica ap�s concluir seus estudos, ao encontrar os habitantes locais sabe que s�o homens de pleno direito, n�o seres que s� interessam pelo que t�m de ex�tico.

    No entanto, ainda s�o o Outro: o desconhecido. Ou, mais precisamente: o desconhecido que vive em n�s, pois est� em nossa origem, em nosso sangue.

    A op��o de Gabriel tem algo de puro, de generosidade absoluta. Um jovem economista rec�m-formado, de classe m�dia alta, branco, podia muito bem se encher de dinheiro no mercado financeiro, n�o podia? Gabriel segue, no entanto, em outra dire��o: quer conhecer esse outro, descobrir-lhe o valor e a sabedoria.

    Esse � o centro de sua peregrina��o. Gabriel, vamos dizer logo, morrer�. E ningu�m comece a reclamar desde j�: o primeiro (e magn�fico) plano do filme � aquele em que descobrem o seu corpo inerte.

    Existe pureza, generosidade, vontade de aprender, desprendimento no jovem brasileiro. Mas existe tamb�m uma seguran�a de si mesmo caracter�stica de nossas classes altas. Gabriel tem a consci�ncia de que pode tudo, inclusive safar-se das situa��es mais ingratas. Pode-se dizer: por mais que fujamos, nossa condi��o de classe n�o nos abandona.

    A peregrina��o de Gabriel nos interessa mais pela viagem do que por seu ponto final, de todo modo. Por exemplo: logo no in�cio entender a rela��o dos habitantes locais com a natureza, a maneira como se cal�am, at� mesmo partilhar o colorido de suas vestes s�o gestos fundamentais desse trajeto.

    Se Gabriel morreu, Fellipe Barbosa em todo caso trouxe a n�s um tanto desse conhecimento ao retra�ar o mais fielmente poss�vel a viagem de seu antigo colega de escola. Fellipe mesmo esclarece que existe uma proximidade entre Gabriel e o C�ndido criado por Voltaire: ambos dotados de um otimismo que os exclui do mundo dos vivos.

    A subida final de Gabriel poderia at� comprovar essa assertiva: Gabriel despreza o conselho da branca que vive na montanha h� anos e lhe recomenda trocar as sand�lias por sapatos. Ah, a humildade pode se transformar com facilidade em autossufici�ncia. Entre os brasileiros sobretudo.

    Seria essa a causa da morte de Gabriel? Pode ser. Mas ele chega ao topo, tira uma selfie com a bandeira do Brasil agitada, como a afirmar o destino triunfal de nossa na��o. Em seguida, um pouco como o Brasil, sucumbir� � arrog�ncia: a neblina torna a descida, que parece t�o mais f�cil, fatal.

    "Gabriel e a Montanha" n�o tem sequer um plano rodado no Brasil. E, no entanto, � dif�cil imaginar um filme mais inteiramente brasileiro.

    *

    Mais sobre filmes e diretores na 41� Mostra Internacional de Cinema de S�o Paulo no especial do 'Guia'.

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