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    Contra ditadura de Angola, Jos� Eduardo Agualusa recorre a sonhos

    AMANDA RIBEIRO
    COLABORA��O PARA A FOLHA

    01/08/2017 02h10

    Bruno Santos/Folhapress
    O escritor angolano Jos� Eduardo Agualusa em Paraty (RJ)
    O escritor angolano Jos� Eduardo Agualusa em Paraty (RJ)

    Jos� Eduardo Agualusa diz ter escolhido sonhar por quem se resignou a apenas sobreviver. Ao contr�rio da maior parte de sua gera��o –que critica em seu livro mais recente, "A Sociedade dos Sonhadores Involunt�rios" – o escritor angolano n�o desistiu de lutar pela abertura pol�tica do pa�s, mergulhado em uma ditadura desde 1979.

    "Com o tempo, as gera��es mais antigas acabaram se conformando com a realidade do pa�s, ou at� pior, se corrompendo. Os regimes totalit�rios fazem isso, destroem a alma das pessoas", disse, no sof� de uma casa alugada em Paraty, onde promoveu o livro durante a Festa Liter�ria Internacional de Paraty.

    A cr�tica pol�tica e social � um tema recorrente no trabalho do autor, que j� publicou 14 romances. Al�m de seu livro mais recente, "O Vendedor de Passados" (2004) e "Esta��o das Chuvas" (1996) tamb�m fazem cr�ticas ferozes � realidade de Angola.

    Com o h�bito de sempre anotar seus sonhos em um di�rio, o autor j� conseguiu frases, personagens e at� enredos de romances.

    Alguns –como uma hist�ria sobre o ramo automobil�stico nos EUA– ele deixa para l�. Outros se tornam livros ou partes importantes deles. "Todos os sonhos do livro s�o meus. Posso dizer que sou um sonhador volunt�rio".

    Vestindo uma camiseta estampada com um Machado de Assis de cabelo "black power", sua homenagem a esta edi��o da Flip, Agualusa detalha o processo de cria��o do romance, produzido ao longo de seis anos.

    Na s�tira pol�tica, quatro personagens lidam com seus sonhos e tentam reagir �s condi��es de desmoronamento de um pa�s sob o totalitarismo.

    O livro se inspira no caso de persegui��o pol�tica que ficou conhecido como 15+2, ocorrido em Angola em 2015. Na ocasi�o, 15 jovens ativistas foram presos acusados de planejar uma rebeli�o contra o presidente da Rep�blica.

    O grupo se reunira para discutir formas pac�ficas de protesto e ler um livro sobre como acabar com ditaduras.

    Entre esses presos pol�ticos estava o rapper luso-angolano Luaty Beir�o, um dos convidados da Flip, que fez greve de fome por 36 dias para protestar contra a sua pris�o e a dos colegas.

    Em alus�o ao caso, os personagens ativistas da obra de Agualusa fazem greve de fome para mostrar que "� poss�vel resistir sem fazer tiros".

    Perguntado sobre o destino de Angola, com a piora no estado de sa�de do presidente Jos� Eduardo dos Santos, o escritor disse ver uma fresta de luz em uma janela que esteve fechada por muito tempo.

    "Temos que esperar para ver se os partidos de oposi��o v�o conseguir se unir para abrir totalmente essa janela".

    Santos deve abandonar o cargo de presidente depois das pr�ximas elei��es, em agosto, e se tornar presidente em�rito. A expectativa � que ven�a o candidato da situa��o, Jo�o Louren�o.

    Sem planos concretos para um novo romance, Agualusa coleciona ideias e quer come�ar a produzir at� outubro. Enquanto isso, seus t�tulos antigos ser�o reagrupados no Brasil pelo selo Tusquets, da editora Planeta.

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