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    Azulejos hist�ricos se esfarelam em Salvador e igreja pede ajuda

    JO�O PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    05/07/2017 02h00

    O Arco do Triunfo da rua Augusta, que ergue-se imponente no centro de Lisboa, � um marco da grandiosidade de Portugal no s�culo 18.

    Assim como ele, havia outros 11 arcos semelhantes na capital portuguesa. Todos viraram hist�ria: foram destru�dos por um terremoto que devastou Lisboa em 1755.

    Essa Lisboa pr�-terremoto, conhecida por poucos, pode ser vista no conjunto de pain�is de azulejos portugueses do s�culo 18 que ornam a igreja da Ordem Terceira de S�o Francisco, no Centro Hist�rico de Salvador. Mas esse peda�o da hist�ria, mais uma vez, come�a a virar p�.

    As pe�as, que somam 85 m� de pinturas, est�o esfarelando. Sem receber manuten��o h� mais de 15 anos, os azulejos est�o descascados em diversos pontos por a��o do sol, do salitre e de infiltra��es nas paredes.

    Respons�vel pela administra��o e conserva��o da igreja, tombada pelo Iphan (Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional) desde 1939, a Ordem Terceira de S�o Francisco afirma n�o possuir recursos para o restauro. "� um tesouro secular que est� se perdendo. Precisamos de ajuda", afirma Jayme Baleeiro Neto, diretor executivo da Ordem.

    Ele diz que entrou em contato com o Iphan em 2015 para alertar sobre a situa��o, mas n�o obteve resposta. O �rg�o federal informa que nenhum pleito para recupera��o foi feito. A igreja da Ordem Terceira tamb�m n�o consta em nenhum dos programas tocados pelo Iphan, como o PAC Cidades Hist�ricas.

    Trazidos de Lisboa, os pain�is retratam, como em cap�tulos, a passagem pelas ruas da capital portuguesa em 1729 do cortejo do casamento de dom Jos� 1�, futuro rei, com Mariana Vit�ria de Bourbon e Farn�sio, selando uma alian�a entre Portugal e Espanha.

    Os azulejos chegaram a ser recuperados entre 1998 e 2000, com o apoio da Funda��o Ricardo do Esp�rito Santo, de Portugal. As pe�as, contudo, voltaram a se desgastar, pois n�o foi feita a impermeabiliza��o das paredes.

    TESOUROS ESCONDIDOS

    Inaugurada em 1703, a igreja da Terceira Ordem de S�o Francisco � uma das mais importantes do conjunto arquitet�nico do Centro Hist�rico de Salvador, considerado Patrim�nio Mundial da Humanidade pela Unesco.

    Foi erguida pelos franciscanos no Terreiro de Jesus, cora��o do Pelourinho. Junto com o Convento da Ordem Terceira de S�o Francisco, que fica ao lado, forma um dos conjuntos monumentais mais importantes do pa�s.

    Al�m das pe�as da igreja e do convento, outros pr�dios da Ordem precisam de reparos. O Lar Franciscano est� com a fachada desgastada e carece de um novo telhado.

    Com 382 anos de hist�ria e atualmente formada por cerca de 90 fi�is leigos franciscanos, a Ordem Terceira sobrevive do aluguel de 140 im�veis que possui em Salvador, da administra��o de um cemit�rio e do ingresso de R$ 5 que cobra para visita��o da igreja e do museu anexo.

    Com o dinheiro, paga os sal�rios de 80 funcion�rios que emprega entre igreja, cemit�rio e o Lar Franciscano, que d� assist�ncia a 90 idosos.

    A prioridade da Ordem, contudo, � recuperar a igreja de S�o Francisco, sua joia da coroa. Al�m dos seus pain�is em azulejo, o templo possui import�ncia hist�rica e arquitet�nica por sua fachada barroca com pe�as em alto-relevo que remetem ao estilo arquitet�nico plateresco do renascentismo espanhol.

    O pr�dio abriga ainda outras preciosidades, como uma pia usada pelos padres que foi trazida de Macau, ent�o col�nia portuguesa, em 1720. A pe�a, que quebrou durante a viagem de navio e levou dois anos para ser remontada na capital baiana, � decorada com temas da cultura chinesa, como drag�es.

    A igreja tamb�m possui um �rg�o de tubos de 1830 que est� quebrado desde 1936. De acordo com um especialista, 350 pe�as precisam ser trocadas para que o �rg�o volte a funcionar. E o mais desolador: em 2017, n�o h� franciscano da Ordem Terceira que se arrisque a toc�-lo.

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