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    Cr�tica

    Rapper se expressa com acidez em versos curtos em 'Galanga Livre'

    MAUR�CIO AMENDOLA
    COLABORA��O PARA A FOLHA

    31/05/2017 02h20

    Renato Stockler/Divulga��o
    O rapper Rincon Sapi�ncia
    O rapper Rincon Sapi�ncia

    GALANGA LIVRE (muito bom)
    QUANTO: R$ 19,90
    ARTISTA Rincon Sapi�ncia
    LAN�AMENTO Boia Fria Produ��es

    *

    Quando Rincon Sapi�ncia divulgou "Ponta de Lan�a (Verso Livre)" nos �ltimos dias de 2016, talvez n�o imaginasse como a faixa –j� uma das mais memor�veis do rap nacional na d�cada– impulsionaria a expectativa sobre seu �lbum de estreia.

    Respeitado no cen�rio independente desde os anos 2000, o rapper viu seu prest�gio alavancar perante o p�blico com a can��o que coloca elementos do funk carioca no rap com rara compet�ncia, enquanto ele desfere versos nada descart�veis.

    Em "Galanga Livre", o artista da zona leste de S�o Paulo prova –como sugeriu a ousada e certeira "Ponta de Lan�a", �ltima do disco– que est� longe de ser um MC convencional. Em meio � onipresen�a atual do trap, aqui e l� fora, Rincon rima ao som de produ��es baseadas em guitarra ("Vida Longa"), baterias no contratempo, quando n�o batucadas de Carnaval ("Meu Bloco"), pianos Rhodes e berimbau ("A Coisa T� Preta").

    Enquanto pelo rap nacional h� uma tend�ncia algo entediante do chamado "speed flow" –rimar o mais r�pido que se puder–, Rincon ostenta versos curtos, atento a rimas internas e multisil�bicas, guiado por flow moderado. � um MC que, de fato, quer ser entendido.

    A grande mensagem do �lbum � a afirma��o da negritude e, embora o t�tulo fa�a men��o � hist�ria do escravo Galanga, que matou seu senhor de engenho, o tom geral do trabalho n�o � a agressividade t�pica do rap.

    O apelidado Manicongo se expressa com irrever�ncia e acidez, al�m de uma vaidade saud�vel e at� divertida, mas n�o menos potente e pol�tica. Ele diz: seu verso � livre, como Mandela saindo da cela, e quente, mas n�o como as chapinhas nos cabelos crespos.

    As letras de Rincon perpassam outras experi�ncias sociais por meio de sua experi�ncia como homem negro.

    Em "Vida Longa", depois de lamentar que Bolsonaro n�o � tipo raro, ele conclui que valores atuais est�o iguais aos p�s do curupira. Na sequ�ncia, em "A Volta pra Casa", um dos destaques do disco, homenageia os trabalhadores e suas longas jornadas. Presente nas rom�nticas "A Noite � Nossa" e "Amores �s Escuras", o universo feminino aparece em "Mo�a Namoradeira", com sample da can��o de mesmo t�tulo de Lia de Itamarac�.

    Rincon sabe que quando rima em boom bap "cl�ssico" rouba a cena –como demonstrou em "Linhas de Soco", sequ�ncia de punch lines lan�ada em 2014–, mas o caso aqui � ousar. N�o h� rever�ncia ao rap americano e nada que remeta de cara ao material de seus pares nacionais. Ele, que tem dito por a� que faz "afrorap", posiciona suas ra�zes –indo do soul ao afrobeat, passando pelo samba e pelos bailes charme– como mosaico sonoro no qual se sente � vontade para seu exerc�cio de MC.

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