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    an�lise

    Fanfarr�o, Roger Moore foi o 007 do Brasil

    GUILHERME GENESTRETI
    EM CANNES

    23/05/2017 12h12

    Morto nesta ter�a (23), aos 89 anos, o ator Roger Moore vestiu o smoking do 007 colecionando alguns recordes: foi o mais velho, o mais longevo e o que apareceu em mais filmes oficiais. Foi tamb�m, at� a chegada de Daniel Craig, o �nico int�rprete ingl�s a dar vida a esse personagem que � a quintess�ncia da Inglaterra.

    Mas sua maior marca � tamb�m a de ter sido o mais fanfarr�o de todos -o oposto da vers�o s�ria de Sean Connery.

    Moore foi tamb�m o James Bond do Brasil. � ele quem aparece na pele do agente secreto duelando contra um oponente de dentes de a�o em pleno bondinho do P�o de A��car em "007 Contra o Foguete da Morte", de 1979.

    O ingl�s assumiu o papel do espi�o com licen�a para matar ap�s o escoc�s Connery, o primeiro, ter atuado em seis filmes (de 1962 a 1971), e o australiano George Lazenby ter vivido Bond em "007-A Servi�o Secreto de Sua Majestade" (1969).

    COME�O DA CARREIRA

    Filho de um policial e de uma dona de casa, o londrino nascido em 1927 veio de uma fam�lia pobre. Serviu o Ex�rcito brit�nico durante a Segunda Guerra e iniciou a carreira art�stica no final dos anos 1940 como figurante em s�ries de TV.

    A beleza cl�ssica de seu sorriso largo, cabelos castanhos e olhos claros o ajudaria a ganhar trocados como modelo -foi garoto-propaganda de malhas de l� a pastas de dente- e tamb�m a galgar pap�is importantes como ator de TV.

    Durante os anos 1950 participou das series "Ivanho�" (1959) e "The Alaskans" (1959), mas teve personagem mais destacado vivendo Beau, o primo brit�nico dos apostadores interpretados por James Garner e Jack Kelly na s�rie "Maverick" (1957-1962).

    007 e a bilheteria - N�meros da franquia com Moore, em milh�es de d�lares*

    Uma ironia fez com que o papel que al�asse Moore � fama tivesse a ver com Bond, ainda que n�o o personagem de 007 propriamente. Em 1962, o primeiro filme de James Bond, "007 Contra o Sat�nico Dr. No", chegou aos cinemas e criou um frisson por hist�rias de espionagem.

    No embalo, a TV brit�nica criou uma s�rie com o mesmo tema "O Santo" e escalou Roger Moore como o protagonista, Simon Templar, um bon vivant que vive aventuras ao redor do mundo. A atra��o manteve sucesso enquanto esteve no ar, entre 1962 e 1969, e deu Moore bagagem suficiente para dar vida ao outro agente secreto, esse sim o mais famoso de todos.

    MOORE, ROGER MOORE

    Moore embarcou como 007 em 1973, quando os executivos da franquia precisavam dar outra cara aos filmes. A Guerra Fria, h�bitat por excel�ncia do personagem, havia degelado, e a URSS j� n�o metia mais tanto medo assim.

    Entre 1962 e 1967, Sean Connery firmou-se o papel, ganhou sucesso e se tornou para l� de exigente. Em 1969, foi substitu�do pelo australiano George Lazenby, em "007 a Servi�o Secreto de sua Majestade", que se mostrou intransigente e um desastre na pele de James Bond. Dois anos depois, os produtores foram for�ados a escalar Connery de novo, para "007– Os Diamantes S�o Eternos", n�o sem antes desembolsarem uma bolada para convenc�-lo. Precisavam de um novo ator.

    Vindo de "O Santo", Roger Moore era a escolha mais �bvia como o novo 007. Sua performance emplacou, rendeu sete longas e uma passagem irregular pela franquia, com alguns filmes elogi�veis e outros realmente esquec�veis.

    Sua primeira incurs�o, "Com 007 Viva e Deixe Morrer" (1973), j� acertava o tom que Moore daria ao personagem. Se Connery era ep�tome da fleuma, o Bond que mal sorria, Moore contra-atacava com a fanfarronice.

    Fanfarronice al�m da conta. Sua encarna��o de 007 costumava fazer piadinhas de duplo sentido at� mesmo em cenas de tens�o, especialmente ap�s derrotar algum capanga, o que, como muitos dos f�s puristas atestaram, se provou uma infantiliza��o daquelas produ��es.

    Os tempos eram outros e os vil�es, mais inveross�meis. Sem a concorr�ncia com os russos, sobrou para Moore enfrentar narcotraficantes entusiastas do vodu, matadores de aluguel com tr�s mamilos, contrabandistas e empres�rios megaloman�acos.

    O Bond de Moore tamb�m precisou enfrentar a concorr�ncia de outros filmes de a��o. Seus filmes s�o os que mais bebem da influ�ncia de outros g�neros, a come�ar pelo primeiro, "Viva e Deixe Morrer", que incorporava elementos do "blaxploitation" (cinema de a��o protagonizado por atores negros).

    No ano seguinte, Moore enfrentou Christopher Lee, c�lebre por sua vers�o de Dr�cula, e seu lacaio an�o no med�ocre "007 Contra o Homem da Pistola de Ouro"; o filme colheu recep��o negativa e botou o agente secreto em uma quarentena de tr�s anos.

    BOND NO BRASIL

    Moore deu a volta por cima, em 1977, no filme que � provavelmente o melhor dentre os sete que fez no papel de Bond: "007-O Espi�o que me Amava". Tinha a seu lado uma bondgirl de personalidade, a agente russa Anya, interpretada por Barbara Bach, ex-mulher de Ringo Starr, que n�o se limitava a ser o par bonito do 007.

    Dois anos depois, contudo, Moore fez aquele que � muitas vezes considerado o pior longa de todos -justamente aquele que levou o agente ao Brasil: "007 contra o Foguete da Morte". No pa�s, Bond pegou um carnaval de rua no Rio, passeou de t�xi por Copacabana com seu portugu�s de gringo, deu um rol� pelos pampas e encontrou as cataratas de Igua�u, pasme, numa Amaz�nia com pir�mides maias.

    Mais absurdos nesse longa: a concorr�ncia com "Star Wars", que tinha lotado os cinemas dois anos antes, for�ou o espi�o a ir at� o espa�o -no fim do filme, 007 salva o planeta depois de ter um quebra-pau numa zona sem gravidade.

    Em 1981 veio "007-Somente para seus Olhos", cuja trama de persegui��o e espionagem seja o que talvez mais o aproxime dos longa de Connery. Os anos 1980, por�m, botaram o personagem no piloto autom�tico.

    O esquec�vel "007 Contra Octopussy" (1983) fez Bond arrumar as malas para a �ndia. Aos 58 anos, Moore se despediu do papel combatendo um magnata do vale do Sil�cio em "007 -Na Mira dos Assassinos" (1985).

    Uma curiosidade: uma cena de sexo no longa de 1985 parecia anunciar a aposentadoria de Moore como 007. O agente, que tradicionalmente ficava "por cima" naquela hora, dessa vez opta por ficar "por baixo" ao transar com Mayday, vivida pela cantora Grace Jones.

    Al�m de mais velho, Moore foi tamb�m o mais longevo -viveu o personagem por 12 anos, um recorde-e aquele que fez mais filmes oficiais: sete.

    VIDA P�S-BOND

    Nos �ltimos 32 anos, Moore n�o fez qualquer papel que rivalizasse com 007, mas colheu os louros da fama. Foi embaixador da boa-vontade da Unicef a partir de 1991 e ganhou o t�tulo de sir, honraria do Imp�rio Brit�nico, em 1999.

    Nos �ltimos anos, sir Roger Moore se envolveu numa pol�mica nas redes sociais que tamb�m tinha a ver com o personagem, mais exatamente com quem deveria ser o sucessor. Em sua opini�o, afirmou que achava que deveria ser um ator "ingl�s ingl�s", que muitos viram como uma alfinetada racista contra o ator negro Idris Elba, cogitado para o papel. Moore negou.

    Com sua morte acontecendo no meio do Festival de Cannes, onde o ator veio em 1977 para exibir "007: O Espi�o que Amava", a mostra europeia dedicou tr�s minutos de sil�ncio em homenagem ao ator.

    Moore foi casado quatro vezes, incluindo com as atrizes Doorn van Steyn e Luisa Mattioli. Ele deixa a vi�va, Kristina Tholstrup, e tr�s filhos do casamento com Mattioli.

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