• Ilustrada

    Thursday, 11-Jul-2024 22:39:17 -03

    Morre aos 91 anos o fil�sofo e soci�logo polon�s Zygmunt Bauman

    FERNANDA MENA
    DE S�O PAULO

    09/01/2017 15h22 - Atualizado �s 10h34
    Erramos: esse conte�do foi alterado

    Michal Kamaryt - 5.out.2006/Associated Press
    ORG XMIT: 363701_1.tif Zygmunt Bauman, a Polish-born sociologist living in Britain, listens to the opening speech before receiving the Vision 97 Prize from former Czech president Vaclav Havel at a ceremony in Prague Thursday, Oct. 5, 2006. The Vision 97 Foundation, established by President Havel and his wife Dagmar, awards an annual prize that is given to outstanding scientists and thinkers whose work has significantly helped to broaden peoples' horizons while addressing the fundamental questions of human existence. (AP Photo/CTK, Michal Kamaryt) ** SLOVAKIA OUT **
    Bauman em 2006 ap�s receber o pr�mio Vision 97 do ent�o presidente tcheco, Vaclav Havel, em Praga

    Morreu nesta segunda-feira, aos 91 anos, em Leeds, na Inglaterra, um dos intelectuais mais pop da atualidade, considerado o "profeta da p�s-modernidade".

    Esp�cie de grife da sociologia, o polon�s Zygmunt Bauman se consolidou como um dos mais influentes pensadores da virada do s�culo 20 para o 21 a partir da cria��o da met�fora da "liquidez", que aplicou � sociedade, ao tempo, � vida, ao medo e at� � arte do mundo p�s-industrial.

    Desde os anos 1960, segundo ele, a acelera��o das mudan�as tecnol�gicas e sociais aprofundou a mobilidade e a individualidade, alterando a no��o de identidade e as rela��es econ�micas, pol�ticas, afetivas e profissionais, marcadas desde ent�o por uma crescente fluidez.

    Nestas sociedades "l�quidas", em que a aus�ncia do sentido de solidez e estabilidade � agravada pela globaliza��o, pela internet e pelo consumismo, por um lado o ser humano se tornou mais aut�nomo, mas, por outro, defendia Bauman, ele passou a conviver com incertezas e ansiedade.

    A press�o por mudan�as constantes, dizia ele, favoreceria uma cultura do esquecimento -raiz da atual ideia de p�s-verdade-, promovida tamb�m pela capacidade de armazenamento das tecnologias digitais, que desobrigariam os indiv�duos a cultivar qualquer tipo de mem�ria. As consequ�ncias, alertava o soci�logo, s�o morais e envolvem a fragilidade e impot�ncia do homem, a sensa��o de desconhecimento e o status provis�rio das solu��es de problemas.

    De escrita acess�vel, Bauman almejava o p�blico leigo, o homem comum que "lutava para ser humano", dizia. Assim, seus livros baseados no conceito de "modernidade l�quida" se popularizaram, ampliando para al�m dos muros da academia o alcance de um tema complexo como a p�s-modernidade.

    Judeu nascido em uma fam�lia n�o-praticante na Pol�nia em 1925, Baumann fugiu para a R�ssia durante a invas�o nazista e se alistou no Ex�rcito Vermelho, tendo lutado batalhas em Kolberg e Berlim.

    Apesar de ter vivido os horrores da guerra, o ex�lio o salvou de sofrimento maior: os guetos, os campos de concentra��o e o Holocausto. Foi por meio do livro de mem�rias de sua mulher, Janina, que viveu num gueto de Vars�via, que Bauman vislumbrou o sofrimento de seus iguais.

    Quatro anos depois da publica��o de "Inverno na Manh�", de Janina Bauman, o soci�logo lan�ou sua an�lise original sobre o nazismo em "Modernidade e o Holocausto", que causou grande controv�rsia ao ser interpretado como um subterf�gio para a Alemanha.

    Na obra, Bauman defendia que o Holocausto s� havia sido poss�vel gra�as � tecnologia e � burocracia t�picas da modernidade, cujas ideias de racionalidade e produtividade distanciariam o homem das consequ�ncias menos imediatas de seus atos, criando condi��es para que a responsabilidade moral desaparecesse.

    Foi a partir desta an�lise que ele se debru�ou sobre as quest�es �ticas que ocupariam suas reflex�es nos anos 1990: como pessoas consideradas membros exemplares de suas sociedades s�o capazes de participar em monstruosidades? Por outro lado, Bauman acreditava que aqueles que voluntariamente se arriscaram para salvar v�timas do nazismo eram igualmente desafiadores para a sociologia.

    Terminada a Segunda Guerra, Bauman retornou � Pol�nia como um oficial do Ex�rcito Vermelho e atuou em unidades militares de intelig�ncia, tendo sido um entusiasta afiliado do Partido Comunista polon�s.

    Ele estudou sociologia e filosofia em Vars�via, onde se tornou professor na universidade. Ao tornar-se progressivamente cr�tico do regime socialista sovi�tico, Baumann e sua fam�lia foram obrigados a fugir da Pol�nia durante uma persegui��o antissemita promovida pelo governo comunista em 1968 e imigrar para Israel junto a outros intelectuais judeus.

    O casal n�o se adaptou � vida em Tel Aviv, como explicou Janina em uma entrevista: "[Israel] era um pa�s nacionalista e n�s est�vamos fugindo do nacionalismo. N�o quer�amos passar de v�timas de um nacionalismo para nos tornarmos autores de outro".

    Tr�s anos depois, em 1971, Bauman se mudou para Leeds, onde lecionou por mais de 40 anos.

    Ecl�tico, escreveu sobre temas t�o diversos como nazismo, modernidade, globaliza��o e programas de reality-show, e publicou mais de 70 livros, mais de um por ano, em m�dia, desde que se aposentou da universidade em 1990.

    Ele deixa sua segunda mulher, Aleksandra Jasinska-Kania, e tr�s filhas, frutos de seu casamento com a escritora Janina Lewinson-Bauman (1926-2009), que conheceu logo ap�s a Segunda Guerra e com quem foi casado por mais de 60 anos.

    Edi��o impressa

    Fale com a Reda��o - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024