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    DW

    Filme acompanha o escritor austr�aco Stefan Zweig durante ex�lio no Brasil

    DA DEUTSCHE WELLE

    31/05/2016 17h22

    Divulga��o
    Cena do filme sobre escritor Stefan Zweig
    Cena do filme sobre escritor Stefan Zweig

    � preciso ter sempre cautela ao comparar filmes sobre eventos hist�ricos a acontecimentos contempor�neos: um momento da hist�ria nunca � id�ntico a outro.

    Quando, em 2011, a diretora e roteirista Maria Schrader e seu coautor Jan Schomburg consideraram escrever sobre a fase do escritor austr�aco Stefan Zweig no ex�lio, ningu�m poderia imaginar que cinco anos mais tarde o tema �xodo e expuls�o estariam t�o atuais na Europa.

    O grau de atualidade espanta a pr�pria cineasta. "Ao ler as descri��es de Friderike Zweig [primeira mulher do autor] da fuga —ela como uma entre milhares no cais de Marselha, todos tentando escapar da guerra e da persegui��o—, a pessoa v� num outro contexto, maior, os seres humanos que hoje arriscam a vida do outro lado do Mediterr�neo por motivos semelhantes, para cruzar esse mar no sentido inverso."

    � "puro acaso e pura sorte se estar morando numa parte do mundo de onde n�o se precisa fugir", acrescenta Schomburg. Por se ocupar de Zweig, sua vis�o do assunto se tornou "ao mesmo tempo mais abstrata e mais concreta".

    "Mais abstrata, porque a gente entende que esses grandes movimentos de migra��o sempre foram uma tr�gica parte da hist�ria da humanidade. Mais concreta, porque fica poss�vel se identificar de outro modo com os refugiados."

    ENTRE ESPERAN�A E DESESPERO

    Com lan�amento na Alemanha nesta quinta-feira (02/06), "Vor der Morgenr�te" ("Antes da aurora", em tradu��o livre) � o segundo trabalho de dire��o da tamb�m atriz Maria Schrader, ap�s a brilhante adapta��o liter�ria Liebesleben ("Vida amorosa"), de 2007.

    Em seis epis�dios, ela exp�e os �ltimos anos de vida de Zweig no ex�lio, no Brasil, Argentina e Estados Unidos. E mostra um homem dividido entre a esperan�a e o desespero, entre a gratid�o pelo acolhimento na nova p�tria e a constata��o de que essa segunda terra nunca ser� a substituta para a antiga.

    "Do nosso ponto de vista, Zweig era algu�m que se recusava a ver as coisas de forma bidimensional, e cujo impulso criativo partia sobretudo do entusiasmo por ideias e por pessoas", analisam os roteiristas. A trag�dia desse "mestre ultrassens�vel dos tons de cinza" foi existir numa �poca "em que s� havia preto e branco, em que a diferencia��o ficava cada vez mais imposs�vel".

    Esp�rito refinado, mesmo nas horas de desespero mais atroz o autor se negava a fazer tiradas de �dio contra a Alemanha e a �ustria. O filme mostra isso nas cenas em Buenos Aires, durante o grande congresso de "poetas, ensa�stas e romancistas" do PEN Club.

    V�rios participantes instam o convidado de honra a condenar o regime de Hitler de forma inequ�voca e rigorosa. A resposta de Stefan Zweig: "N�o vou falar contra a Alemanha. Eu nunca falaria contra um pa�s. E n�o farei nenhuma exce��o."

    Por outro lado, ele expressou rep�dio incondicional pelas circunst�ncias do congresso, em especial a cobertura jornal�stica: "Os jornais te perseguem de manh� � noite, com fotografias e mat�rias [...] Fico enojado com essa feira das vaidades."

    Manfred Grientens
    Casa dos Zweig em Petr�polis, Rio de Janeiro, hoje transformado em museu
    Casa dos Zweig em Petr�polis, Rio de Janeiro, hoje transformado em museu

    DOIS EX�LIOS, UM S� HORROR

    Stefan Zweig se suicidou em Petr�polis, Rio de Janeiro, aos 60 anos, em 23 de fevereiro de 1942, juntamente com a mulher Lotte. A rea��o inicial de um ilustre colega seu de profiss�o e ex�lio, Thomas Mann, foi de censura, vendo no ato "algo como uma deser��o do destino de emigrante comum a todos n�s, e um triunfo para os dominadores da Alemanha".

    Contudo, dez anos mais tarde ele rever� esse ponto de vista, tendo percebido qu�o arraigado Zweig era em sua terra natal, como toda sua exist�ncia dependia dela. Agora Mann compreende n�o ser tanta vergonha assim "ele n�o querer e n�o poder continuar vivendo no mundo cheio de brados de �dio, barreiras hostis e medo brutalizante que hoje nos cerca".

    N�o h� como comparar. E no entanto, tendo-se diante dos olhos a situa��o dos refugiados na Alemanha —escapados do terrorismo e da guerra civil, eles chegam a um pa�s em que toda semana um alojamento de migrantes � incendiado—, � poss�vel imaginar o horror que vivenciam.

    Stefan Zweig foi inicialmente recebido calorosamente no Brasil, sobre o qual escreveu "Brasil, Pa�s do Futuro", sua obra mais controversa. Ali, a sua exist�ncia n�o estava amea�ada, o horror da perda da p�tria se encenava na pr�pria mente. Para Maria Schrader, seu protagonista "fugiu da guerra e apesar disso foi assombrado por ela".

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