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    Retrospectiva disseca evolu��o visual do concretismo de Augusto de Campos

    SILAS MART�
    DE S�O PAULO

    08/05/2016 02h40

    Na arte, h� momentos em que o sil�ncio fala mais alto. Augusto de Campos, 85, um dos pilares da poesia concreta no pa�s, conta que a vanguarda que trabalhou para construir primeiro teve a ver com uma depura��o radical da linguagem, uma esp�cie de marco zero sonoro e visual, para que depois fosse arquitetada uma nova vis�o de mundo.

    Seus poemas mais secos e duros, ainda escritos com letras min�sculas contra fundos brancos, poderiam ser o lado mais emudecido, austero da hist�ria. Outros, que serviram de base para suas anima��es em v�deo, saltando para fora da p�gina em explos�es de cor, respondem pela f�ria que tempos mais urgentes parecem demandar.

    Divulga��o
    Viva Vaia', poema de 1972
    'Viva Vaia', poema de 1972

    Essa transforma��o da poesia em elemento pl�stico desafiador na obra de Campos surge agora com toda a pot�ncia no Sesc Pompeia, na maior mostra j� dedicada ao autor.

    No fundo, a retrospectiva se esfor�a para revelar o que as p�ginas dos livros e as sint�ticas anima��es do artista j� faziam em escala menor, ou seja, busca uma tradu��o visual arrebatadora para versos que j� nasceram no fio da navalha entre a simplicidade extrema e a viol�ncia verbal.

    Versos de poemas como "Viva Vaia", "Amortemor", "Rever" e "O C�digo" ressurgem ali como esculturas que se desdobram no espa�o. Outros, j� alvos de v�deos criados por ele ao longo dos anos 1990, ganham uma releitura tridimensional nas salas escuras na ala final da exposi��o.

    "Tentei trazer um ar novo para as artes, levar o pa�s a uma integra��o cultural com o resto do mundo", diz Campos. "A poesia concreta antecipou um pouco o que se veria com as novas tecnologias."

    Divulga��o
    Psiu!', colagem de 1966, da s�rie 'Popcretos
    'Psiu!', colagem de 1966, da s�rie 'Popcretos'

    De fato, mesmo na era paleol�tica pr�-revolu��o digital, Campos e os concretistas do Ruptura, grupo formado em 1952 e liderado por Waldemar Cordeiro, j� sonhavam com um futuro igualit�rio, calcado na assepsia das formas industriais e no repert�rio visual de �ngulos retos forjado pela Bauhaus, a c�lebre escola alem� de design.

    Da� o uso ortodoxo de cores prim�rias, letras min�sculas e sem volteios. "Essa foi uma escolha mais ou menos coletiva, entramos nessa onda", diz Campos. "A gente sentava e conversava muito com os pintores, mas havia as diverg�ncias, n�o era um grupo que nunca brigava."

    UTOPIA DESMONTADA

    Brigando ou n�o, toda essa turma fez parte da primeira mostra de arte concreta realizada h� 60 anos pelo Museu de Arte Moderna paulistano. Mas o futuro brilhante que previam ali foi eclipsado em 1964 pelo golpe militar.

    "Isso me abalou muito, desmontou minha utopia ortodoxa", diz Campos. "A gente viu o pa�s virar de repente uma rep�blica das bananas."

    Foi ent�o que Campos, nas palavras de Daniel Rangel, que organiza a mostra, "deixou de ser um poeta concreto para ser um poeta pop". Do golpe em diante, o artista passou a usar recortes de jornal e outros tipos de letras e desenhos gr�ficos para construir mensagens que iam do tom incendi�rio � resigna��o.

    Reprodu��o
    Fluvial/Pluvial', poema de 1954
    'Fluvial/Pluvial', poema de 1954

    Longe da assepsia industrial, Campos foi buscar na imprensa, ou o "maior parque gr�fico do mundo", formas visuais mais pr�ximas do povo.

    O poeta, ali�s, v� no atual momento pol�tico, com o pa�s abalado por um processo de impeachment controverso, um paralelo �queles tumultuados tempos de exce��o.

    "� uma coincid�ncia triste. S� tenho a lamentar", diz Campos. "Fiquei vendo aquele circo grotesco que a C�mara dos Deputados nos apresentou e me envergonhei de ser brasileiro. Estava deprimido e fiquei mais deprimido ainda. Isso � um erro tremendo e s� vai desmoralizar a democracia brasileira."

    No plano da poesia, o inc�ndio em Bras�lia talvez provoque uma nova ruptura de linguagem do autor, que aos poucos vai rompendo o sil�ncio.

    AUGUSTO DE CAMPOS
    QUANDO de ter. a s�b., das 10h �s 21h; dom., 10h �s 19h; at� 31/7
    ONDE Sesc Pompeia, r. Cl�lia, 93, tel. (11) 3871-7700
    QUANTO gr�tis

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