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    Cauby Peixoto morre em S�o Paulo aos 85 anos

    SANDRA CAPOMACCIO
    COLABORA��O PARA A FOLHA
    CHICO FELITTI
    DE S�O PAULO

    16/05/2016 01h42 - Atualizado �s 10h00

    Calou-se no final da noite deste domingo (15), aos 85 anos, a voz de Cauby Peixoto, h� quase sete d�cadas um dos maiores cantores brasileiros. O artista estava internado desde o �ltimo dia 9 no hospital Sancta Maggiore, na zona oeste de S�o Paulo, com um quadro de pneumonia, informou sua assessoria.

    A p�gina oficial do cantor no Facebook tamb�m confirmou a morte, publicando a seguinte mensagem: "Com muita dor e pesar informamos aos amigos e f�s que nosso �dolo Cauby Peixoto acaba de falecer as 23:50 do dia 15 de maio. Foi em paz e nos deixa com eterna saudades. Pra sempre Cauby!"

    Ao lado da parceira de longa data �ngela Maria, Cauby estava em turn� pelo Brasil com o show "120 Anos de M�sica". No repert�rio, baseado no disco "Reencontro", m�sicas que marcaram as trajet�rias dos dois artistas, como "Vida de Bailarina", "Gente Humilde" e "Bastidores". Eles fariam uma apresenta��o no Sesc, neste fim de semana, em ocasi�o da Virada Cultural. A �ltima apresenta��o do cantor foi no dia 3 de maio, no Theatro Municipal do Rio.

    No in�cio de 2015, o cantor chegou a cancelar, devido a problemas e sa�de, sua participa��o no espet�culo "Falando de Amor".

    O vel�rio do artista acontece desde as 8h na Assembleia Legislativa de S�o Paulo, pr�ximo ao parque Ibirapuera. O enterro deve ocorrer a partir das 17h, no cemit�rio Congonhas, na zona sul, onde a fam�lia de �ngela Maria tem jazigo, informou o marido da cantora.

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    A carreira de Cauby na m�sica come�ou quando era ainda menino, na d�cada de 1940, dentro de uma casa de m�sicos. Foi Moacyr Peixoto, pianista e seu irm�o, que o "ensinou a baixar o tom com que eu cantava no coral da escola, alto demais".

    Lan�ado em boates na adolesc�ncia, n�o tardou para que come�asse a tentar a chance como calouro em programas como "A Hora dos Comerci�rios", da r�dio Tupi. Ganhou mais de dez concursos.

    Cauby reinou na feminina m�sica da d�cada de 1950, na era de ouro do r�dio, que consolidou a exist�ncia de uma m�sica popular brasileira. Seus sambas, marchas, toadas, foxes e bai�os eram das poucas can��es a dividir as paradas com m�sicas de Marlene e de Emilinha Borba.

    Foi em 1956 que, com o samba-can��o "Concei��o", tornou-se uma estrela nacional. Mas o sucesso n�o o impediu de se arriscar em um novo estilo: o rock. "Eu tremi todo quando o conheci", conta Ronnie Von, para quem o cantor era "o pai do rock'n'roll, a primeira voz a cantar esse som em portugu�s."

    E em ingl�s tamb�m. Cauby fez duas excurs�es aos EUA, de mais de um ano cada uma. Adotava o nome de Ron Coby para tentar uma carreira internacional que nunca deslanchou, ainda que tenha sido chamado de "O Elvis Presley do Brasil" pela revista "Time" em uma das temporadas na Am�rica. Em comum com Elvis e Frank Sinatra, dizia ter "as meninas que desmaiam quando se canta".

    O empres�rio Di Veras viu o potencial de �dolo da juventude feminina brasileira e passou a moldar o repert�rio do m�sico, confessou Cauby d�cadas depois. "Como bom aluno, fui fazendo o que ele queria", disse � Folha em 2001. Di Veras bolava tamb�m t�ticas de marketing como costurar os figurinos com pouco esmero "para rasgarem f�cil quando as f�s puxassem".

    Mas n�o opinou na cria��o do personagem Cauby. "Di Veras n�o gostava dos penteados nem das roupas extravagantes. Eu � que fui colocando. E cada vez mais coloquei." Foi a partir dos anos 1980 que a peruca de cachos subiu � cabe�a do cantor e seu visual pendeu para a androgenia.

    O figurino, bordado de paet�s e dourados, n�o era c�nico, e sim para uma vida. "O Cauby � igual na rua e no palco." Mas pouco se via Cauby nas ruas do bairro de Higien�polis, onde morou nas �ltimas d�cadas.

    Recluso, gastava tempo ouvindo m�sicas que iam de Frank Sinatra ao sertanejo Luan Santana, que ele disse ser "muito interessante", em 2012. Sa�a de casa s� para almo�ar com a colega de of�cio e "quase namorada" �ngela Maria, com quem lan�ou uma d�zia de discos, num condom�nio na regi�o de S�o Paulo. "Adoro ela, a voz dela, a fam�lia dela, a comida dela", disse em 2014.

    Mesmo nessas pequenas excurs�es n�o dispensava o figurino e a peruca, diz o estilista Carl�o Saade, que o vestia. "Ele gostava das roupas de show para a vida, e n�o se importava com o que diziam", disse Saade.

    "Podem me chamar de bicha!", liberou Cauby em 1985, ao falar das vestimentas. O enigma era sua op��o sexual: disse que "at� poderia" se apaixonar por homens, por mais que "n�o tivesse acontecido", mas nunca se classificou como homossexual. Mais do que entrar numa categoria, preferia escapar completamente ao erotismo. "No amor, sempre o fracasso... Tive que renunciar. Ali�s, o maior sentimento do amor � a ren�ncia."

    O niteroiense tamb�m teve de abdicar de parte da fama nas d�cadas de 1970, quando passou por certo ostracismo. "A m�dia me esqueceu", disse. Mas, em 1980, Caetano Veloso e outros artistas fizeram m�sicas especialmente para ele gravar, o que chamou de sua volta: o disco "Cauby! Cauby!". Outras, como "Bastidores", foram ganhar no usucapi�o: Cauby a cantou com tanta autoria que criou uma lenda que Chico Buarque havia escrito a letra, sobre uma vedete apaixonada, para ele. N�o tinha.

    Nas �ltimas d�cadas, enfrentou cantando uma s�rie de problemas de sa�de. No come�o de 2014, teve uma infec��o no ouvido que o deixou longe dos palcos por tr�s meses, mas n�o sem gravar. Usava um aparelho de audi��o e pedia que interlocutores falassem alto e pausadamente. Era diab�tico e na d�cada de 1990 fizera cirurgia para implantar pontes de safena.

    Precisava de apoio de duas pessoas para se locomover at� o palco e cantava sentado. O que, segundo ele, n�o comprometia a qualidade da voz. "Tiro o ar do diafragma. Me d� at� mais ar [cantar sentado]." Foi sentado que por mais de dez anos lotou �s segundas o sal�o do Bar Brahma, na esquina das avenidas Ipiranga e S�o Jo�o.

    Faz alguns anos que Cauby Peixoto passou a responder cumprimentos com trechos de m�sica. Se algu�m perguntasse "Como vai, Cauby?", ele emendava o trecho de algo que tivesse gravado recentemente, como John Lennon: "Imagine all the peopleeee".

    Cronologia - Cauby Peixoto

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