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    CR�TICA

    'Novelismo' n�o turva sutileza de 'Que Horas Ela Volta?'

    IN�CIO ARAUJO
    CR�TICO DA FOLHA

    26/08/2015 02h00

    O encontro proposto � promissor: uma atriz expansiva como Regina Cas� e uma diretora que valoriza os gestos m�nimos, Anna Muylaert.

    O tema � quase uma obsess�o recente do cinema brasileiro: a empregada dom�stica como evid�ncia da persist�ncia do escravismo numa sociedade em que a elite resiste, desde sempre, ao trabalho f�sico.

    Em "Que Horas Ela Volta?" seguimos a trajet�ria de Val (Cas�), nordestina h� muitos anos empregada numa mans�o paulistana.

    Ela cuida do jovem Fabinho desde que ele era crian�a, e � tratada por B�rbara, a patroa, como "pessoa da fam�lia". Isso at� que entra em cena J�ssica, sua filha, que chega para prestar vestibular em S�o Paulo.

    B�rbara ent�o parece descobrir que Val n�o � bem uma amiga. Que essa hist�ria de filha de empregada no quarto de h�spedes ou pulando na piscina n�o � como ela v� a ordem natural das coisas. Pois, afinal, Val n�o � da fam�lia: apenas lhe era conveniente pensar assim.

    � no princ�pio que est�o os melhores momentos do filme, em que pequenos gestos mostram muito mais que os ostensivos. Ao entrar na hist�ria, J�ssica passa a explicitar situa��es que ningu�m quer ver explicitadas, ou que ningu�m nem mesmo sabe que existem.

    A partir da�, algo estranho acontece: com J�ssica em cena, come�am a se desenhar personagens que parecem estranhos ao trabalho de Muylaert: B�rbara se mostra quase uma vil� (ao menos desperta nossa simpatia); Carlos, seu marido, um s�tiro tolo.

    O que era uma situa��o com rela��es inconscientes (ou quase) de domina��o e submiss�o evolui para um inc�modo drama de her�is e vil�es, ao qual n�o faltam as habituais paix�es entre ricos e pobres, a��es perversas da patroa etc.

    O que se esbo�a ali � a tentativa de um cinema de compromisso, em que a autora n�o abdica da sutileza minimalista de seu estilo, mas introduz um pouco do, digamos, "novelismo" da Globo Filmes.

    Desse compromisso pode resultar uma educa��o do gosto de um p�blico limitado habitualmente a consumir formas muito desgastadas da conven��o narrativa, ou a rejei��o por esse p�blico da ambiguidade que ele preserva.

    A resposta vir�, em boa parte, da rela��o que Regina Cas� e seu personagem conseguirem estabelecer com o espectador neste que � certamente o filme mais arriscado de Anna Muylaert, pela ambi��o, mas tamb�m, talvez, o menos s�lido.

    QUE HORAS ELA VOLTA?
    DIRE��O: ANNA MUYLAERT
    ELENCO: REGINA CAS�, KARINE TELLES, LOUREN�O MUTARELLI
    PRODU��O: BRASIL, 2015
    CLASSIFICA��O: 12 ANOS
    QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (27)

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