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    Minha Hist�ria

    RAFAEL HENZEL, 43

    O maior presente � a minha vida, diz sobrevivente de voo da Chape

    Depoimento a (...)
    LUIZ COSENZO
    DE S�O PAULO

    26/12/2016 02h00

    RESUMO O jornalista Rafael Henzel, 43, locutor da r�dio Oeste Capital FM, de Chapec�, foi um dos seis sobreviventes do acidente a�reo matou 71 pessoas no �ltimo dia 29, na regi�o de Medell�n.

    Henzel teve sete costelas quebradas, pneumonia e les�o no p� direito. Ficou 20 dias internado, dos quais dez na UTI, e teve alta na segunda (19). Ele planeja voltar ao trabalho em 9 de janeiro, e, no dia 25, narrar o primeiro jogo oficial da Chapecoense ap�s a trag�dia -contra o Joinville, pela Primeira Liga.

    *

    Chegamos a S�o Paulo no domingo (27), um dia antes da nossa viagem para Medell�n, para transmitir a partida da Chapecoense contra o Palmeiras, a �ltima do clube antes da primeira decis�o da Copa Sul-Americana.
    N�s j� sab�amos que ficar�amos em S�o Paulo ap�s o jogo porque, no outro dia, viajar�amos para Medell�n.

    Na segunda-feira pela manh�, fiz o programa que tenho na r�dio Oeste Capital FM das 7h at� as 10h e, logo depois, fomos [ele e o rep�rter Renan Agnolin] para o aeroporto de Guarulhos. Ach�vamos que poder�amos despachar a bagagem prontamente, mas a empresa boliviana de linha acabou atrasando.

    O voo sairia �s 15h15, mas atrasou. Entramos apenas �s 16h e decolamos por volta das 17h. Mesmo assim, o clima foi de descontra��o no sagu�o e na sala de embarque.

    Est�vamos alegres na viagem. Era o nosso momento, o momento dos jogadores, da comiss�o, enfim, de todos. Est�vamos nos dirigindo para a maior decis�o da hist�ria da Associa��o Chapecoense de Futebol.

    Fomos para Santa Cruz de La Sierra. Chegando l� j� estava a aeronave da LaMia, a mesma que tinha levado a gente da Bol�via para Barranquilha no dia 19 de outubro [jogo das quartas de final da Copa Sul-Americana].
    O avi�o estava adesivado com os s�mbolos da Chapecoense.

    APAGAR DAS LUZES

    A partir da� come�ou a nossa viagem para chegar at� Medell�n. A viagem foi longa e troquei quatro vezes de lugar. Fui conversando com os amigos. Os jogadores estavam na parte da frente da aeronave e a imprensa, na parte de tr�s. Ficamos conversando durante toda a viagem at� que me posicionei na �ltima fileira no banco do meio do lado direito.

    Faltavam dez minutos para pousar. A todo momento falavam que faltavam dez minutos, mas n�o no microfone. O piloto n�o teve nenhum contato com a gente.

    Neste momento, as luzes se apagaram motivada pela falta de combust�vel e automaticamente os motores foram desligados. A partir da� n�o tenho a no��o exata do tempo que levou entre o desligar das luzes at� a colis�o no morro, que hoje chama-se Cerro Chapecoense.

    RESGATE

    Horas depois, acordei, ainda no local do acidente, e vi os dois colegas que estavam ao meu lado sem vida [Renan Agnolin, 27, e Djalma Ara�jo Neto, 35]. Eu achei em princ�pio que era um sonho e que iria acordar, porque estava dormindo na aeronave. Infelizmente, n�o foi isso que aconteceu.

    Eu despertei vendo algumas lanternas que vinham de baixo para cima. Estava na parte de cima do morro. A outra parte do avi�o havia se desprendido completamente e ca�do do outro lado.

    Tive for�as para chamar os socorristas, que n�o estavam por perto. Naquele momento, s� estavam dois rapazes com as lanternas. Eles vieram e conseguiram me retirar.

    Estava com muita sede naquele momento, mas n�o podiam me dar �gua. N�o sei dizer quanto tempo demorou para me retirarem daquele lugar. Sei que o terreno era muito �ngreme, n�o havia trilha. Havia pedras, barro e a temperatura estava muito baixa, menos de dez graus.

    Consegui ser levado at� uma parte plana, onde havia uma caminhonete. Fui colocado em cima dela e levado para um ponto de apoio at� chegar a ambul�ncia. Logo depois, fui levado a um hospital, onde fiquei tr�s dias [Cl�nica San Juan de Dios, em la Ceja, perto de Medell�n].

    Minha esposa [Jussara Ersico] e um primo [Roger Valmorbida] foram para a Col�mbia, mas s� consegui v�-los no terceiro dia em que estava internado.

    O primeiro m�dico que me atendeu tentou desde o in�cio entrar em contato com a minha fam�lia. A fam�lia dele, inclusive, foi at� o aeroporto recepcionar os meus familiares e levou-os at� a casa deles para tranquiliz�-los.

    Tive sete costelas quebradas, al�m de problemas respirat�rios que agora est�o est�veis. Estou conseguindo me recuperar ap�s ter uma pneumonia por causa do acidente. Neste momento, tenho apenas uma pequena les�o no p� direito, que j� est� em tratamento com antibi�tico.

    Fiquei dez dias na UTI e depois fui levado para a Cl�nica S�o Vicente, uma das mais renomadas da Col�mbia, e ali pude me restabelecer.

    Quinze dias depois, voltei para o Brasil em um avi�o da FAB (For�a A�rea Brasileira)juntamente com o Alan Ruschel [outro sobrevivente].

    FUTURO

    O que posso dizer � que l� ocorreu um milagre. Setenta e uma pessoas perderam a vida, apenas seis pessoas sobreviveram. No meu caso posso dizer que houve um milagre, j� que o meu banco ficou preso entre duas �rvores, caso contr�rio eu seria lan�ado mais � frente e sabe-se l� o que poderia acontecer.

    Ainda n�o parei para pensar o que vai acontecer, qual � a minha miss�o. Eu s� sei que para a comunidade chapecoense, que tem 210 mil habitantes, � fundamental a gente poder voltar a trabalhar, poder fazer o nosso jornalismo que � feito na Oeste Capital FM.

    Quero voltar a trabalhar no pr�ximo dia 9 de janeiro. Quero estar junto com a comunidade para superar todos esses obst�culos, superar esse luto que se estabeleceu.

    No pr�ximo dia 25 [janeiro], vou narrar o primeiro jogo da Chapecoense no ano e seguir com a vida. Vamos buscar entender por que ficamos. Buscar essa mensagem de solidariedade, do exemplo que Col�mbia e Brasil deram.

    A gente v� tanta viol�ncia, brigas, mortes por motivos f�teis. A gente v� tamb�m tanta gente desistindo de tratamentos at� menores do que o nosso. N�o queremos servir de exemplos para ningu�m, mas mostrar que � poss�vel, com f�, acreditar.

    A vida vai passando, v�o ficando recorda��es e de repente a vida pode parar. Temos que viver com mais amor, viver mais com a fam�lia, apesar de que temos que trabalhar. Principalmente, radiar solidariedade, radiar o amor.

    Deus foi o grande respons�vel pela nossa vida, pela vida dos nossos amigos que ficaram. Temos que levar essa mensagem de f�. Quero que 2017 seja um ano maravilhoso para todo mundo.

    N�o tive medo de viajar de avi�o. Sei que n�o foi um problema mec�nico e, sim, humano e, por isso, n�o terei dificuldade nenhuma de acompanhar a Associa��o Chapecoense de Futebol. O maior presente que Deus pode dar a mim e para a minha fam�lia � a minha vida.

    Acidente em voo da Chapecoense

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