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    EUA aceleram teste de psicod�lico contra o estresse p�s-traum�tico

    MARCELO LEITE
    DE S�O PAULO

    29/08/2017 02h00

    Raquel Cunha/Folhapress
    Comprimidos de ecstasy
    Comprimidos de ecstasy

    A FDA, ag�ncia de f�rmacos e alimentos dos EUA, decidiu apressar testes cl�nicos com metilenodioximetanfetamina (MDMA) para tratar transtorno de estresse p�s-traum�tico (TEPT). � a primeira droga psicod�lica a receber sinal verde preferencial para buscar licen�a como rem�dio.

    A MDMA entra –ou deveria entrar– como principal componente do ecstasy, estimulante de amplo consumo em festas e raves. Proibida, a droga vendida ilegalmente pode, contudo, conter mais anfetamina do que a pr�pria metilenodioximetanfetamina.

    A decis�o da FDA contempla esfor�os da Associa��o Multidisciplinar de Estudos Psicod�licos (Maps, na abrevia��o em ingl�s), organiza��o sem fins lucrativos fundada em 1986 nos EUA. Ela j� angariou US$ 44 milh�es para estudos sobre uso medicinal de maconha, MDMA, LSD e outras subst�ncias.

    "Pela primeira vez a psicoterapia assistida por psicod�licos ser� avaliada em testes de fase 3 para poss�vel uso sob prescri��o, com a psicoterapia apoiada por MDMA (ou midomafetamina, nome gen�rico aprovado para a droga) para TEPT abrindo o caminho", festeja o presidente da Maps, Rick Doblin.

    "Estamos prontos para iniciar negocia��es com a ag�ncia de f�rmacos da Europa."

    Psicodelia contra o trauma

    A ag�ncia americana conferiu ao teste proposto pela Maps a classifica��o de terapia inovadora ("breakthrough therapy"), ou seja, com potencial para obter resultados melhores que os tratamentos dispon�veis. Sob supervis�o direta da FDA, o licenciamento deve correr mais r�pido que o usual.

    Em estudos preliminares para investigar efeitos colaterais e doses ideais (fase 2) com uma centena de pacientes, a MDMA obteve resultados encorajadores. Ap�s 12 meses de acompanhamento, 68% dos participantes n�o se encaixavam mais nos par�metros para diagnosticar TEPT.

    "� um grande avan�o, excelente not�cia para quem sofre. Espero que abra caminho para o amplo uso psicoterap�utico da MDMA", diz Sidarta Ribeiro, do Instituto do C�rebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    A expectativa � que a aprova��o final venha em 2021.

    A MDMA atua sobre os receptores serotonin�rgicos do c�rebro, aumentando os n�veis do neurotransmissor serotonina. Reduz o medo, rebaixa defesas, melhora a comunica��o, a introspec��o, a empatia e a compaix�o.

    Ministrada na forma pura em tr�s sess�es, como prop�e a Maps, com acompanhamento de uma dupla de terapeutas especialmente treinados, a droga permite ao paciente falar de eventos traum�ticos sem reviver a ang�stia, as crises de p�nico, os pesadelos e os pensamentos suicidas da vida cotidiana.

    Estima-se que 7% da popula��o dos EUA e 11% a 17% de seus veteranos de guerra sofram com TEPT. Estudo publicado em 2012 na revista "PLoS One", com mais de 5.000 paulistanos, indicou preval�ncia de 1,6%, metade dos casos na forma grave.

    TABU

    "Para al�m de qualquer tend�ncia ideol�gica, o fato � que os resultados preliminares indicam grandes potencialidades da MDMA para o tratamento desse problema. Caso venha a ser legalizada, seguramente abre a porta para que novos psicod�licos sejam aceitos e incorporados como tratamentos com acompanhamento terap�utico. � dif�cil n�o ficar empolgado com a not�cia", diz Beatriz Caiuby Labate, antrop�loga social brasileira.

    Professora visitante do Ciesas (Centro de Investiga��es e Estudos Superiores em Antropologia Social, do M�xico), Labate foi uma das organizadoras do congresso Psychedelic Science 2017, que reuniu mais de 3.000 pessoas de 40 pa�ses em Oakland (Calif�rnia), em abril.

    "Existe um grande tabu e uma estigmatiza��o em torno dos psicod�licos, ora considerados como patologias, ora criminalizados, ora demonizados. Mas essas subst�ncias ocuparam e continuam ocupando lugares centrais no mundo dos povos tradicionais, como � o caso da ayahuasca no Brasil, do peyote no M�xico e nos EUA e dos cogumelos no M�xico", defende a pesquisadora.

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