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    Rio, 500 anos: Rio de Janeiro, 1� de mar�o de 2065

    NEI LOPES
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    01/03/2015 02h00

    A convite da Folha, quatro autores cariocas de diferentes estilos imaginam como ser� a cidade em outro anivers�rio, daqui a 50 anos.

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    Meu caro Marciano:

    Seu pedido de not�cias chega no momento em que preparo a festa dos meus 123 anos, felizmente com boa sa�de.

    Minha rotina continua simples: acordo cedo, me energizo com as tr�s ou quatro p�lulas que constituem minha alimenta��o di�ria e leio as not�cias, por meio de tr�s canais de informa��o: um conservador, um liberal e outro popular. Estes me bastam, pois todos os outros s�o tendenciosos, como os dos velhos tempos.

    H� tr�s d�cadas e meia, depois daquilo tudo que ocorreu, o Rio voltou a ser a capital, tranquila e organizada: n�o h� mais pobres nem ricos; as religi�es deram lugar a filosofias; o Estado � finalmente laico; e a representa��o do povo, no governo e na m�dia, � a exata express�o, num�rica e qualitativa, de sua presen�a na sociedade.

    Est� tudo �timo: seguran�a p�blica; educa��o; transportes; sistemas de sa�de; pol�ticas habitacionais... Na cultura, museus e bibliotecas funcionam 24 horas; os teatros n�o encenam mais nada da Broadway; os est�dios de futebol (as torcidas organizadas se autodestru�ram) sediam jogos de pura arte.

    As favelas hoje s�o bairros: os do sul, todos de turistas, que s� v�m nas f�rias; os de norte e oeste enfeitam as encostas dos morros replantados. A ba�a j� tem at� baleias de novo. E os rios Iraj�, Sarapu� e Miriti t�m �gua como a dos tempos dos �ndios.

    Dias atr�s, foi o Carnaval. Agora, em recintos fechados e sem nada de "bloco de camiseta". O ponto alto continua sendo as escolas, hoje realmente n�cleos de ensino de m�sica e artes c�nicas que, na festa, com seu pr�prio dinheiro, amealhado licitamente, apresentam os resultados de cada ano letivo.

    Na escola vencedora deste ano, o tema contava a lenda de uma ex-favelada que, com influ�ncia e o poder do seu amor, um emir �rabe, tornou-se presidente da maior estatal do pa�s. Lenda, claro! Mas um belo conto de fadas, cantado em estilo "sertanejo universit�rio", mas t�o bem feitinho que at� parecia ser m�sica mesmo.

    Seria bom ter voc� na festa dos meus 123 anos e do quinto centen�rio da cidade. O �nico problema s�o os comes e bebes. Feijoada, agora, ningu�m mais sabe o que �. Tripa � lombeira, as pessoas pensam que � palavr�o. E chope na press�o, nem pensar. Porque cerveja hoje � s� esp�rito de malte. E esp�rito n�o usa colarinho.

    Mas est� tudo �timo. O Rio est� "xou" (a grafia foi abrasilerada). E n�s temos mais � que comemorar seus 500 aninhos. Em seu corpinho de 50.

    NEI LOPES, 72, � escritor e compositor, carioca suburbano.

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