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    Reinaldo Jos� Lopes

    Estudo com macacos-resos amplia esp�cies que se reconhecem no espelho

    26/02/2017 02h00

    Divulga��o
    Macaco-resos acompanha, em espelho, laser no pr�prio rosto
    Macaco-resos acompanha, em espelho, laser no pr�prio rosto

    � dif�cil evitar a impress�o de que h� algo de m�gico na capacidade de se reconhecer no espelho. Ambos os primatinhas sem pelos que tenho criado em casa come�aram a realizar essa fa�anha mais ou menos com a mesma idade, logo depois de completarem um ano de vida, sem que ningu�m precisasse lhes ensinar nada: de repente, bateram o olho na superf�cie polida e souberam que os reflexos "eram" eles: "C� estou eu, diante de mim mesmo".

    N�o se deixe enganar pelo virtuosismo com que os filhotes de Homo sapiens realizam essa fa�anha, por�m. O autorreconhecimento no espelho tem sido descoberto numa gama cada vez mais variada de esp�cies. Um novo estudo, publicado na revista cient�fica "PNAS", sugere que ele pode at� ser aprendido por bichos que, de in�cio, n�o captam a mec�nica da coisa.

    A bola da vez s�o os macacos-resos (Macaca mulatta), naturais da �sia. Em uma analogia familiar, se os grandes s�mios africanos (chimpanz�s e gorilas) s�o nossos primos de primeiro grau, os resos s�o parentes de terceiro ou quarto grau –espertos, mas n�o se espera deles a mesma sofistica��o cognitiva "quase humana" de chimpanz�s e afins.

    Entre as "joias da coroa" da intelig�ncia dos grandes macacos est�, claro, a capacidade de reconhecer a si mesmo no espelho –algo que mesmo o mais matreiro dos gatos nunca consegue fazer.

    O experimento cl�ssico que permitiu verificar a presen�a dessa habilidade em chimpanz�s envolvia sedar os bichos, fazer uma marca vermelha na bochecha deles com tinta remov�vel e depois esperar que os "volunt�rios" acordassem diante de um espelho. Com a ajuda da imagem, eles logo descobriam a nova pintinha e ainda se punham a explorar partes do corpo antes inacess�veis � sua vis�o, como o interior da boca e do nariz.

    Nas �ltimas d�cadas, todos os grandes s�mios foram aprovados no "teste do espelho", assim como outros animais altamente soci�veis e inteligentes: golfinhos, orcas, elefantes-asi�ticos e pegas (parentes europeias dos corvos). Todos os demais macacos, por�m, pareciam ter sido barrados no baile.

    Coube a uma equipe da China mostrar que os macacos-resos tamb�m tinham potencial. Mu-ming Poo e Neng Gong, do Instituto de Neuroci�ncia da Academia Chinesa de Ci�ncias, come�aram treinando os bichos a acompanhar com o dedo um ponto de luz gerado por um laser.

    Colocados numa cadeira diante de um espelho, os macacos eram recompensados ao tocar no ponto de luz –at� que os cientistas chineses passaram a projetar o laser numa �rea ao lado do pesco�o dos bichos, que eles s� conseguiriam localizar e tocar com a ajuda do reflexo. Depois de algum treino, eles aprenderam a fazer isso e obtiveram o mesmo resultado quando a luz do laser foi projetada em sua pr�pria face.

    Quando voltaram para a jaula, agora com um espelho, os resos continuaram conseguindo identificar o laser nas suas caras, bem como pintinhas feitas com caneta –e ainda exibiram o comportamento autoexplorat�rio t�o t�pico dos chimpanz�s que enxergam o pr�prio reflexo.

    Moral da hist�ria –que vale para tudo o que estamos descobrindo sobre a intelig�ncia dos demais animais: at� as caracter�sticas mais caras � nossa humanidade possuem paralelos em outras esp�cies. Onde antes v�amos abismos entre n�s e eles, corredores n�o cessam de aparecer– ainda bem, eu acrescentaria.

    Reinaldo José Lopes

    � jornalista de ci�ncia com gradua��o, mestrado e doutorado pela USP. � autor do blog "Darwin e Deus" e do livro "Os 11 Maiores Mist�rios do Universo". Escreve aos domingos, a cada 2 semanas.

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