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    Paula Cesarino Costa - Ombudsman

    Not�cia boa � melhor que ruim?

    12/03/2017 02h00

    Lydia Megumi/Folhapress
    ilustra��o coluna ombudsman

    "Not�cia ruim � not�cia boa" � uma daquelas m�ximas repetidas � exaust�o no meio jornal�stico para justificar o dom�nio de not�cias negativas na imprensa e na m�dia, em geral. Abundam nas primeiras p�ginas casos de corrup��o, esc�ndalos, desemprego, crimes, viol�ncia, desastres, terrorismo.

    A m�dia cria esse vi�s de not�cias negativas ou responde � prefer�ncia da audi�ncia por m�s not�cias em vez de buscar as boas not�cias? Pergunta dif�cil.

    Duas pesquisas que parecem contradit�rias, mas n�o o s�o, dimensionam a dificuldade que os jornalistas encontram em satisfazer o leitor.

    Estudo do Pew Research Center reuniu 165 pesquisas nacionais sobre as prefer�ncias por not�cias nos �ltimos 20 anos nos EUA. Relatos de guerra e reportagens sobre terrorismo est�o no topo do interesse desde 1986, quando o estudo come�a.

    Cada vez mais frequentes, hist�rias sobre desastres naturais causados pelo homem perderam interesse nesse intervalo. Not�cias envolvendo dinheiro foram as que se tornaram mais atraentes com o tempo.

    A segunda pesquisa demonstrou que leitores compartilham mais not�cias positivas do que not�cias negativas. O estudo liderado pelo psic�logo Jonah Berger, autor do livro "Cont�gio: Por Que as Coisas Pegam" (Leya, 2014), mostrou que hist�rias que despertaram emo��es –especialmente positivas– eram mais propensas a serem compartilhadas pelos leitores.

    Jornal com marca cr�tica que muitos leitores confundem com ranzinzice, a Folha sempre se manteve atenta � necessidade de valorizar not�cias positivas.

    Em 14 de julho de 1991, o jornal lan�ou a se��o "Boa Not�cia", que permaneceu na primeira p�gina at� 19 de janeiro de 2006. Em 14 de junho de 2010, a se��o voltou a ser publicada por per�odo mais curto, tendo sido novamente interrompida.

    No in�cio deste ano, o jornal rebatizou a se��o, agora chamada "Dias Melhores", e anunciou tem o intuito de "oferecer informa��es positivas e inspiradoras". O editor-executivo da Folha, S�rgio D�vila, diz que a demanda do leitor por boas not�cias � forte. "Jornalismo tamb�m � apontar com exatid�o e profundidade as not�cias que indicam progresso, melhoria, supera��o."

    O card�pio de quarenta reportagens incluiu textos ligados a tem�ticas sociais, pesquisas de sa�de e ci�ncia, projetos comunit�rios, iniciativas de solidariedade e narrativas de supera��o pessoal ligadas � pobreza, educa��o e sa�de.

    A primeira reportagem descrevia projeto de oficinas em Portugal que ensinam idosos a grafitar. O leitor Gabriel de Oliveira Santos contestou: "� uma modalidade pol�mica de arte, que interfere na propriedade terceiros e se imp�e autoritariamente aos outros sem consulta, por isso n�o est� sendo bem vista por grande parte da sociedade."

    A rea��o explicita como n�o � t�o simples nem �bvio eleger o que � bom exemplo. Esse � apenas um dos desafios. � preciso ter coragem e m�todo ao fazer escolhas.

    Acho a iniciativa louv�vel, mas incomoda que a sa�da encontrada para esta demanda dos leitores tenha ares de experi�ncia requentada, em vez de inovadora.

    J� existem no Brasil e no exterior v�rios sites, p�ginas e jornais que publicam apenas not�cias positivas.

    O mundo mudou, o leitor mudou, e o jornal tem de mudar. Repetir uma f�rmula do passado, apenas com nova roupagem, funciona?

    Serviu para obrigar o jornal a publicar not�cias boas, mas n�o mudou a forma de fazer e pensar o jornal. Reportagens positivas devem sair do nicho e passar a ser discutidas ao lado da investiga��o que poder� vir a derrubar um ministro.

    Pol�ticas p�blicas de sucesso, por exemplo, s�o quase sempre ignoradas pelo jornal. Em geral, porque s�o mais dif�ceis de avaliar t�cnica e desapaixonadamente. S�o, entretanto, mais importantes em termos de penetra��o social e relev�ncia hist�rica do que temas epis�dicos de supera��o -que tamb�m merecem ser editados com destaque.

    A Folha n�o abandonar� jamais sua voca��o principal de investigar e fiscalizar os poderes estabelecidos –o que j� faz com grau de excel�ncia frequente. N�o pode, entretanto, ser tomada pelo esp�rito de "fracassoman�acos", como se queixou um ex-presidente.

    Precisa ter a ambi��o de alcan�ar uma nova maneira de apresentar not�cias inspiradoras que tamb�m sejam relevantes. Esta preocupa��o deve estar refletida na pauta do jornal, na execu��o precisa da reportagem e na edi��o atraente do tema. Not�cia � not�cia, seja boa ou n�o. Independe de dias melhores.

    paula cesarino costa

    Est� na Folha desde 1987. Foi Secret�ria de Reda��o e editora de Pol�tica, Neg�cios e Especiais. Chefiou a Sucursal do Rio at� janeiro de 2016. Escreve aos domingos.

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