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    Marcos Troyjo

    EUA ter�o dificuldades em negociar acordos bilaterais de com�rcio

    22/02/2017 02h00

    A maneira mais suave que Trump e sua equipe encontraram de dizer que os EUA est�o abertos para neg�cios reside na f�rmula "queremos com�rcio justo, n�o com�rcio livre" ("we want fair trade, not free trade").

    O que devemos entender por isso? Como j� argumentei nesta coluna, Trump baseou sua campanha e muitas de suas a��es iniciais na Casa Branca na den�ncia —e por vezes no abandono, como no caso da Parceria Transpac�fico (TPP), de acordos negociados com mais de um parceiro.

    Depreende-se, portanto, que do ponto de vista da t�tica negociadora, a administra��o Trump despreza mecanismos multilaterais como a OMC (Organiza��o Mundial do Com�rcio), bem como formatos plurilaterais, de que s�o exemplos TPP e TTIP (o mega-acordo entre EUA e Europa que provavelmente n�o sair� do papel).

    Saul Loeb/AFP
    O presidente dos EUA, Donald Trump, fala em evento no Museu de Hist�ria Afro-americana, em Washington
    O presidente dos EUA, Donald Trump, fala no Museu de Hist�ria Afro-americana, em Washington

    As vibra��es emitidas por tal sinaliza��o em contr�rio a acordos comerciais que envolvam v�rios atores j� podem ser nitidamente sentidas.

    Nesta ter�a-feira (21), o Banco Mundial publicou um relat�rio em que reconhece efeitos positivos para o crescimento global, ao menos no curto prazo, de alguns componentes da "Trumponomics" (desonera��o fiscal, expans�o da infraestrutura e desregulamenta��o). Alerta, no entanto, que uma das principais ferramentas da expans�o econ�mica global nas �ltimas d�cadas —o com�rcio internacional— encontra-se em pronunciada retra��o.

    Caminhamos portanto para o sexto ano consecutivo de crescimento do com�rcio em propor��o inferior � progress�o do PIB mundial. E mais: 2016, informa o Banco Mundial, foi o ano mais fraco em termos de com�rcio de bens e servi�os desde o advento da "Grande Recess�o" iniciada em 2008 e cujo s�mbolo m�ximo foi a quebra do Lehman Brothers.

    O marco de 2008 � assim, n�tido: oito anos antes do advento da vit�ria de Trump, o sentimento de "Globaliza��o Profunda" j� se come�ara a substituir pelo "Risco de Desglobaliza��o", de que a atual tibieza do com�rcio mundial � t�o simb�lica.

    Mas Trump, garantem seus assessores, quer mais, e n�o menos com�rcio. Qual ent�o o caminho adiante? Acordos bilaterais.

    Em tese, nada deve haver contra uma postura liberalizante dos EUA por meio de uma negocia��o pa�s a pa�s. Pouco se avan�ou no marco da agora paralisada Rodada de Doha da OMC. E experimentos com a escala do TPP (acordo em que o estabelecimento de padr�es conta mais do que a desgrava��o tarif�ria) jamais foram testados na pr�tica.

    O problema �, bem, quem toparia engajar-se numa negocia��o cabe�a a cabe�a com essa tresloucada administra��o Trump? Uma primeira resposta mais ou menos �bvia �: pa�ses como R�ssia, Reino Unido e Jap�o.

    Moscou obviamente adoraria ver o com�rcio como uma das muitas plataformas de "relan�amento" das rela��es russo-americanas. No entanto, apesar da empatia Trump-Putin, a chance disso acontecer num horizonte vis�vel � simplesmente nenhuma.

    Em meio a continuadas alega��es de que os russos se intrometeram ciberneticamente na corrida � Casa Branca e que Trump e seu time mant�m suspeita cordialidade com o Kremlin —vide a queda de Michael Flynn do posto de conselheiro de Seguran�a Nacional— n�o h� clima para entendimentos comerciais que possam ir al�m do eventual levantamento de san��es econ�micas a Moscou.

    H� ainda os brit�nicos. Em Davos no m�s passado, Anthony Scaramucci, influente conselheiro de Trump, salientou que um grande acordo comercial EUA-Reino Unido seria vislumbr�vel quando transcorresse um ano da efetiva��o do "brexit". Sabemos, contudo, que o pr�prio calend�rio do div�rcio Londres-Bruxelas ainda � bastante incerto.

    J� o Jap�o teria todo interesse num acordo bilateral. Para T�quio, uma coisa � ser o "n�mero dois" numa arquitetura bi ou plurilateral em que o protagonista � Washington. Outra � ser "s�cio-j�nior" em esquemas comercias cujo epicentro encontra-se em Pequim.

    Ainda assim, mesmo o Jap�o ilustra a relut�ncia que muitos pa�ses apresentar�o em negociar bilateralmente com os EUA. O esfor�o de tantas na��es na �sia-Pac�fico e na Europa no desenho de mega-acordos com os EUA ter� se mostrado em v�o.

    H� ainda a possibilidade, sobretudo no que sobrar do TPP, de que acordos plurilaterais comecem sem os EUA. E, a depender de quem for o inquilino da Casa Branca ap�s o ciclo Trump, que Washington volte a enxergar o com�rcio para al�m da mera perspectiva bilateral.

    David Lypton, um dos principais diretores do FMI, sugeriu nesta ter�a-feira em Berlim que l�deres europeus devem "engajar-se construtivamente" com os EUA no que Trump considera "assimetrias" do com�rcio internacional. Nos formatos, multi, pluri ou mesmo bilaterais isso n�o ser� nada f�cil. Com o rude "Am�rica Primeiro", Trump pouco disfar�a que os objetivos de sua vis�o negociadora s�o "unilaterais".

    marcos troyjo

    Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.

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