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    Marcos Augusto Gon�alves

    Centro-direita e centro-esquerda

    28/04/2015 02h00

    Em recente texto para o caderno Ilustr�ssima (12.abr), o soci�logo Celso Barros considerava a import�ncia de uma revis�o moral e program�tica do PT com vistas a impedir o naufr�gio do partido e assegurar seu futuro como representante de um projeto social-democrata para o pa�s.

    Caberia ao petismo, nessa hip�tese, negociar um novo acordo, pelo qual se trocaria mais liberalismo por mais redistribui��o: "Justamente porque o pa�s precisa de reformas liberais, precisa ao mesmo tempo redistribuir renda e oportunidades com um entusiasmo que nunca teve. Este � o acordo necess�rio para nossas pr�ximas d�cadas: mais liberalismo em troca de mais redistribui��o".

    A mencionada revis�o moral e program�tica viria, no primeiro caso, como resposta indispens�vel ao envolvimento de quadros petistas em esquemas de corrup��o, e, no segundo, como consolida��o de uma perspectiva pol�tica e econ�mica que melhor compreendesse e aceitasse, como j� ocorre em alguns setores (os majorit�rios), o funcionamento da economia de mercado e da democracia liberal -ou seja, um processo que consagrasse, enfim, o partido de centro-esquerda, social-democrata, que j� existe de fato. Isso implicaria o estreitamento do espa�o para propostas de tipo "bolivarianas" ou de extrema-esquerda com base no intervencionismo estatal e na demoniza��o do capitalismo.

    N�o sei se resumi satisfatoriamente o texto de Celso Barros, que � muito interessante e merece ser lido na �ntegra. Tampouco estou certo de que o PT, diante das circunst�ncias, encontrar� meios de trilhar esse caminho.

    � razo�vel, no entanto, imaginar que o desenvolvimento econ�mico e pol�tico do pa�s, dentro dos marcos da economia de mercado e das institui��es da democracia liberal, tende a pressionar pela consolida��o de um partido de centro-esquerda e de um oponente de centro-direita. Mesmo que n�o se imagine a repeti��o do modelo bipartid�rio norte-americano, com democratas de um lado e republicanos de outro –deixando-se aberta a possibilidade imagin�ria de uma eventual "terceira via"– � certo que a maior parte das economias e democracias mais avan�adas contam com siglas importantes que, de um modo ou de outro, expressam esse antagonismo b�sico.

    Se o PT j� tem uma experi�ncia que o credencia a ser o representante da social-democracia, resta saber que partido representar� a centro-direita. A tentativa, de certa forma problem�tica, mas levada adiante, de empurrar o PSDB para a direita foi uma maneira de encenar essa divis�o num contexto em que, na realidade, a direita propriamente havia se recolhido do primeiro plano, preferindo atuar como sat�lite fisiol�gico de petistas e tucanos -ambos na pr�tica muito mais pr�ximos do que a rivalidade expl�cita poderia fazer crer.

    Agora, o cen�rio mudou. O desgaste do PT e o aparente decl�nio de um ciclo propiciaram a mobiliza��o de uma centro-direita que vai �s ruas defender suas reivindica��es. Quem ir� represent�-la? O PSDB, certamente, tem grandes chances de tornar-se, enfim, de corpo e alma o partido desses setores, mas o PMDB mostra-se disposto a disputar a posi��o –e tem quadros para isso, de Eduardo Cunha a Eduardo Paes. � cedo para dizer qual ser� a nova configura��o partid�ria, mas parece uma disfun��o insustent�vel que o partido � esquerda tenha hoje como principal aliado justamente aquele que se insinua cada vez mais � direita.

    marcos augusto gonçalves

    Foi editor da 'Ilustr�ssima'. � autor de 'P�s Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' e de '1922 - A semana que N�o Terminou'.

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