• Colunistas

    Thursday, 01-Aug-2024 07:33:01 -03
    Janio de Freitas

    'Estamos perplexos'

    02/11/2014 02h00

    Os aspectos obscuros -e, enquanto o forem, tamb�m suspeitos - em torno das alegadas acusa��es do doleiro Alberto Youssef a Lula e a Dilma Rousseff, publicadas por "Veja", aumentaram em n�mero, em gravidade e no emaranhado.

    O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, negou a not�cia de "O Globo", comentada em artigo aqui, segundo a qual as acusa��es foram feitas como "retifica��o" a depoimento anterior, respectivamente, nos dias 22 e 21 �ltimos.

    O jornal atribu�ra o pedido de "retifica��o" a "um dos advogados" de Youssef, o que Antonio Basto tamb�m nega.

    Ao fazer a retifica��o da "retifica��o", "O Globo" continuou sem identificar o tal advogado e sem informar a proced�ncia da not�cia contestada. O que n�o � incomum nem lhe acrescenta qualquer responsabilidade. Mas obscurece um pouco mais o caso. Porque na origem da informa��o incomprovada havia o �bvio prop�sito de complicar mais o epis�dio, dificultar sua elucida��o.

    N�o foi a primeira interven��o negadora de Antonio Basto, nem a mais importante. E n�o muda em nada os aspectos que a Pol�cia Federal considera necess�rios investigar em inqu�rito. Por suspeitar de indu��o para que Youssef, preso e dependente de benef�cios prometidos, mas ainda n�o formalizados, fizesse as acusa��es para influ�rem no eleitorado. Poss�vel crime n�o inclu�do na atual dela��o premiada.

    "O Globo" foi tamb�m o primeiro jornal a noticiar as acusa��es publicadas por "Veja" a 48 horas da elei��o presidencial. No seu texto, dia 24, � pag. 5: "O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto (...) disse n�o ter conhecimento da informa��o citada pela revista". E d� a palavra ao advogado: "Eu nunca ouvi falar nada que confirmasse isso (que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrup��o na Petrobras). N�o conhe�o esse depoimento, n�o conhe�o o teor dele. Estou surpreso - afirmou Basto". Os par�nteses nesse trecho s�o do jornal.

    Mais: "Ele disse que Youssef prestou muitos depoimentos no mesmo dia [21] e que o doleiro estava acompanhado de advogados de sua equipe". Palavras de Antonio Basto: "Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso [a acusa��o]. Estamos perplexos e desconhecemos o que est� acontecendo. � preciso ter cuidado porque est� havendo muita especula��o".

    Antonio Basto "nunca ouviu falar" nas acusa��es atribu�das a seu cliente. Entre "todos na sua equipe", "nenhum fala isso" (ter havido acusa��o). E, no entanto, como o advogado quis esclarecer ao negar a not�cia posterior de "retifica��o" acusat�ria, "participam dos depoimentos a Procuradoria-Geral da Rep�blica, delegados da Pol�cia Federal e agentes, al�m de um advogado de defesa".

    O que essa explica��o transmite � a confirma��o da presen�a, sempre, do pr�prio Basto ou de advogado de sua equipe, portanto n�o se explicando que houvesse a acusa��o e nenhum deles soubesse dela. Tanto mais sendo acusa��o t�o grave, em momento t�o sens�vel. E, Basto esclarece ainda, cada advogado da sua equipe, nas audi�ncias e depoimentos, "confere os documentos produzidos [o que implica leitura das declara��es] e as assinaturas".

    A retifica��o do dia 22, para incluir as acusa��es a Lula e a Dilma, n�o houve. E essas mesmas acusa��es no depoimento do dia 21, das quais a defesa "n�o ouviu nada" e "nunca ouviu falar" antes de servidas ao pa�s pela imprensa?

    A resposta profissional de Antonio Figueiredo Basto, como apareceu tamb�m na Folha da v�spera da elei��o, � que "n�o desmente nem confirma". Explica-se: mesmo o advogado, se disser mais do que "n�o ouviu falar", e f�rmulas assim, estar� violando o sigilo exigido para a dela��o premiada do cliente e anulando-a, n�o importa se confirma ou se nega o que quer que seja.

    O notici�rio pol�tico da Folha foi cobrado, internamente, para informar sobre a retifica��o do depoimento -a tal que n�o houve. Na verdade, procurou faz�-lo, mas, como respondido � cobran�a, a retifica��o foi negada por dois agentes e por um dos advogados do caso. E � verdade que fui avisado disso, mas j� perto das 8 da noite. N�o houve como localizar em tempo o advogado, nem desejei sustar o coment�rio sobre a not�cia de "O Globo" por entender que todo este assunto das acusa��es, e das circunst�ncias em que apareceram, precisaria ser mexido at� se conhecer o seu avesso.

    janio de freitas

    Colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, � um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa as quest�es pol�ticas e econ�micas. Escreve aos domingos e quintas-feiras.

    Fale com a Reda��o - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024