BRAS�LIA - Fundado em 1565 entre os morros P�o de A��car e Cara de C�o, como se aprende em suas escolas, o Rio de Janeiro completa 450 anos bem distante da imagem idealizada nas comemora��es oficiais.
Os cariocas foram aben�oados com o mais belo cen�rio natural do mundo. Em contrapartida, enfrentam o empenho de sucessivos governantes para destru�-lo, em parceria com a especula��o imobili�ria.
O resultado � uma megacidade de seis milh�es de habitantes estrangulada pela falta de planejamento e condenada ao descaso com a natureza e o patrim�nio hist�rico.
O jornalista Mill�r Fernandes se referia ao Rio como "antiga cidade brasileira, hoje desaparecida". Era um exagero, mas resumia bem a op��o por crescer apagando o passado.
O Rio foi capital da col�nia, do Imp�rio e da Rep�blica entre 1763 e 1960. Com tanta hist�ria para preservar, preferiu a destrui��o –por sorte, o P�o de A��car e o Corcovado resistiram � f�ria das demoli��es.
Do primeiro n�cleo urbano, o morro do Castelo, s� restou a ladeira da Miseric�rdia, que hoje liga o nada ao lugar nenhum. O resto foi desmontado em 1922 com a desculpa de sempre: abrir espa�o para o progresso.
Quase um s�culo depois, os erros se repetem. O prefeito Eduardo Paes anunciou a recupera��o da zona portu�ria, mas n�o conciliou os interesses das construtoras com um plano eficiente de ocupa��o residencial.
Agora urbanistas temem que a regi�o fique deserta nos fins de semana. As torres comerciais sobem rapidamente, mas o �nico projeto de habita��o est� com as obras paradas.
A Olimp�ada de 2016 ofereceu outras oportunidades, mas falta compet�ncia –ou interesse– para aproveit�-las. Na semana passada, o governador Luiz Fernando Pez�o admitiu que a despolui��o da ba�a de Guanabara n�o ser� conclu�da. Os gastos come�aram em 1994. Depois de vinte e dois anos, os atletas ol�mpicos correm o risco de velejar sobre o esgoto, entre sof�s e pneus � deriva.
Jornalista, assina a coluna Bras�lia. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.