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    Cientistas acham DNA de humanos pr�-hist�ricos em cavernas sem ossos

    REINALDO JOS� LOPES
    COLABORA��O PARA A FOLHA

    27/04/2017 15h01 - Atualizado �s 14h21
    Erramos: esse conte�do foi alterado

    Erich Ferdinand/Flickr
    Equipe de cientistas estuda DNA antigo
    Equipe de cientistas estuda DNA antigo

    Cada p� de terra que os arque�logos removem das cavernas que est�o estudando pode estar repleta de pedacinhos de DNA de criaturas extintas –inclusive de ancestrais da humanidade. Um estudo internacional mostrou que � poss�vel "ler" essa montanha de fragmentos gen�ticos e ter um vislumbre dos seres vivos do passado mesmo quando nenhum osso deles foi preservado.

    "A nossa metodologia foi desenvolvida originalmente para tentar identificar fragmentos de ossos que n�o consegu�amos atribuir a nenhuma esp�cie", explicou � Folha a coordenadora da pesquisa, Viviane Slon, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha). "Percebemos que tamb�m poderia ser uma boa ideia usar a t�cnica para procurar DNA em sedimentos." Viviane e seus colegas est�o publicando os resultados da tentativa em artigo na edi��o desta semana da revista especializada "Science".

    A equipe do Max Planck lidera os estudos sobre DNA antigo (ou seja, obtido a partir de amostras de seres vivos que morreram h� centenas ou milhares de anos) desde que a �rea surgiu. Foram eles os principais respons�veis por reconstruir a totalidade do genoma dos neandertais, primos extintos da humanidade que dominaram a Europa at� uns 40 mil anos atr�s, e dos denisovanos, outra esp�cie de humanos primitivos que viveu na Sib�ria durante a Era do Gelo e que, ali�s, s� foi descoberta gra�as �s an�lises gen�ticas, porque pouqu�ssimos fragmentos �sseos deles foram achados at� hoje.

    Para realizar fa�anhas desse tipo, os pesquisadores normalmente extraem cuidadosamente peda�os da parte interna de ossos bem preservados, com o objetivo de minimizar riscos de contamina��o. Mas o DNA � uma mol�cula prom�scua: pequenos peda�os de pele, pelos, fezes, saliva e muitas outras formas de mat�ria corporal costumam contaminar com nosso material gen�tico tudo o que tocamos, de forma que fazia sentido procurar DNA nos sedimentos do ch�o das cavernas.

    O problema, claro, era como separar o joio do trigo: com o passar dos mil�nios, os pedacinhos do genoma dos seres humanos e dos bichos que passavam pelas cavernas iam se fragmentando cada vez mais e se misturando, inclusive ao DNA de bact�rias que tamb�m cresciam por ali.

    PESCANDO GENES

    Para contornar essa dificuldade, explica Viviane, foi importante desenvolver um m�todo capaz de "pescar" fragmentos espec�ficos de DNA em meio � bagun�a. Os pesquisadores decidiram usar como "isca" trechos de mtDNA (DNA mitocondrial, presente apenas nas mitoc�ndrias, as usinas de energia das c�lulas complexas). O mtDNA est� presente em muitas c�pias em cada c�lula, sendo, portanto, muito abundante, e apresenta ainda a vantagem de ser bastante distinto de uma esp�cie para a outra, o que facilita a identifica��o.

    Como o DNA � formado por quatro letras qu�micas que s�o complementares entre si segundo um esquema r�gido –a letra C s� se liga � letra G, enquanto a T s� se conecta com a A, formando uma sequ�ncia de pares de letras–, as "iscas" se basearam nesse princ�pio, fazendo com que o DNA antigo se hibridizasse (ou seja, se conectasse) com elas.

    Com base nesse princ�pio, o estudo de sete s�tios arqueol�gicos na Europa e na Sib�ria permitiu a recupera��o de mtDNA de 12 fam�lias diferentes de mam�feros, entre eles os famigerados neandertais e denisovanos.

    "Mas o principal avan�o tecnol�gico que permitiu este estudo de larga escala foi a automatiza��o dos procedimentos de laborat�rio", diz Viviane. "Com isso, conseguimos examinar m�ltiplas amostras em paralelo e recuperar esses pequenos tra�os do DNA de homin�deos."

    O m�todo foi suficientemente sens�vel para sugerir a presen�a de dois indiv�duos diferentes da mesma esp�cie (no caso, dois neandertais) no s�tio espanhol de El Sidr�n –por causa da troca de uma �nica letra de mtDNA. E, por incr�vel que pare�a, as contas feitas pelos pesquisadores sugerem que a quantidade de material gen�tico que sobra nos sedimentos � mais ou menos a mesma que � poss�vel extrair de ossos.

    "Em tese, nosso m�todo poderia permitir a identifica��o de grupos de homin�deos a respeito dos quais ainda n�o temos nenhuma informa��o gen�tica", afirma a pesquisadora. Isso significa –mais uma vez, teoricamente, por enquanto– que identificar fragmentos de DNA de parentes ainda mais remotos do ser humano, como o Homo erectus ou o misterioso H. floresiensis, apelidado de "hobbit" por sua estatura diminuta, n�o seria pura fic��o cient�fica. Ambas as esp�cies, afinal, s� desapareceram de vez h� algumas dezenas de milhares de anos, pelo que sabemos –a Indon�sia foi seu derradeiro reduto.

    "O desafio, no que diz respeito � Indon�sia, tamb�m envolve a preserva��o do DNA por longos per�odos de tempo num clima muito quente", assinala Viviane.

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