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    SAIU NO NP

    Pr�ncipe das madames 'passa o rodo' e vira o rei da noite em SP

    CLAUDIA CRESCENTE
    DO BANCO DE DADOS DA FOLHA

    29/09/2017 04h00

    Folhapress
    Manchete do 'NP' de 9 de setembro de 1984 dava conta da popularidade de Pelez�o na noite paulistana
    Manchete do 'NP' de 9 de setembro de 1984

    Fazia muito frio na noite em que a fama seduziu o indigente Paulo Gon�alves na fila da Central de Triagem e Encaminhamento (Cetren, hoje conhecida como "sop�o"), na rua Otto de Alencar, no centro de S�o Paulo. Em 29 de agosto de 1984, as mulheres brasileiras conheceram seu novo �dolo sexual, Pelez�o, um dos mais famosos personagens do "Not�cias Populares".

    No dia anterior, a equipe do jornal foi surpreendida com a hist�ria de um mendigo que, aguardando tranquilamente por uma quentinha da prefeitura, foi ca�ado pela bela psic�loga D.M.Z., 28, para uma breve aventura sexual em seu Fiat branco, estacionado a poucos metros da fila. "A mulher caiu em cima de mim feito uma gata no cio", contou Paulo, 52, apelidado de Pelez�o pela mo�a.

    A brincadeira terminou com o flagra da pol�cia, que tirou o casal do banco traseiro do carro e o levou para a cela do 6� DP, no Cambuci. Ambos se apresentaram ao delegado nus da cintura para baixo. A mulher, segundo depoimento dos policiais, disse que a vontade surgiu no momento em que passava pelo local e alegou ter "uma filha e muitos problemas com o marido".

    Folhapress
    Pelez�o
    Pelez�o posa para foto em uma das primeiras apari��es no 'NP'

    D.M.Z. deixou seus brincos e um anel como garantia do pagamento da fian�a de 60 mil cruzeiros. J� no caso de Pelez�o, sua liberdade foi adquirida gra�as � piedade dos policiais, que fizeram uma vaquinha. No dia seguinte, Paulo j� deixava de ser um indigente para se tornar o "�dolo das madames", al�ado � fama pelas manchetes do "Not�cias Populares".

    As mulheres distintas da sociedade paulistana passaram a frequentar a fila do Cetren em busca de Pelez�o, que, por sua vez, arranjou um palet� azul e tratou de fazer a barba.

    Mas o astro n�o voltou � fila dos indigentes –ao contr�rio, foi hospedado em um hotel na alameda Bar�o de Limeira, �s custas do jornal– e passou a receber todo tipo de regalia.

    A atitude de D.M.Z. gerou especula��es de todo tipo. Os rep�rteres do "NP" recorreram aos especialistas da USP e publicaram a seguinte explica��o: "Uma s�rie de pesquisas recentes de psic�logos e antrop�logos franceses, reunidas por Georges Bataille, tem mostrado que a ess�ncia do erotismo est� justamente nos contrastes: o claro e o escuro, o preto e o branco, a pureza e a impureza (...)". A princesa e o mendigo, portanto.

    Mas a solu��o intelectualoide n�o convenceu e, em 1� de setembro, o jornal decretou: "Pomba-gira encosta e psic�loga ataca". Antes de ir verificar a fila do Cetren, D.M.Z., conforme constava de seu depoimento � pol�cia, participou de uma sess�o num centro esp�rita e poderia ter sido possu�da pela pomba-gira, que � "uma entidade que no passado foi mulher da vida e, uma vez incorporada por uma pessoa do sexo feminino, faz com que ela passe a agir, inconscientemente, como uma prostituta".

    A confus�o entre espiritismo e candombl� vingou, ao passo que Pelez�o passou a desfrutar de uma fama com a qual nunca sonhara: era assediado na rua, participou de programas na TV e no r�dio e ganhou at� um rock em sua homenagem, o "Mel� do Pelez�o". A m�sica, composta por um f�, contava a saga do �dolo e come�ava assim:

    Folhapress
    Em 9 de setembro de 1984, 'NP' publica fotos do ass�dio a Pelez�o na noite paulistana
    Em 9 de setembro de 1984, 'NP' noticia o ass�dio a Pelez�o

    Vejam s� a hist�ria que vou contar
    De um mendig�o que ficou famoso
    Certo dia numa fila da Cetren
    De repente aparece um algu�m
    Que lhe escolhe para ser
    Seu Superman, da�
    Cenas de sexo expl�cito
    Livre (refr�o)
    Era uma psic�loga
    Que queria analisar
    A pot�ncia do negr�o
    Fazendo do seu carro
    Um consult�rio...

    Paulo Gon�alves vivia agora uma vida de astro, com direito a fim de semana no Guaruj� com os novos amigos da "high society", passeio de jatinho e at� um famoso advogado encarregado de cuidar do seu caso no 6� DP. Mas o que o �dolo das madames queria mesmo era um emprego. E foi assim que, em 9 de setembro, o "NP" anunciava que Pelez�o era o novo rei das noites no Bexiga (regi�o central).

    Por meio de um amigo, o astro arranjara um bico como porteiro na cantina C... Que Sabe!, na rua Rui Barbosa. E, como ele mesmo disse que "macaco velho n�o mete a m�o em cumbuca", decidiu aproveitar a chance e garantir um futuro para si e para sua rec�m-conquistada noiva, Maria Aparecida Pontes, 50 anos. Segundo a reportagem, a sortuda era "copeira conceituad�ssima numa ag�ncia de viagens internacionais".

    "Sei cozinhar muito bem. Assim, al�m do cora��o, vou prend�-lo tamb�m pelo est�mago. Sem essa de sopinha rala na fila da Cetren." Esse era o plano de Maria Aparecida para seu futuro com Pelez�o, por quem ca�ra de amores logo que viu a primeira foto no "Not�cias Populares". Ela leu no jornal que ele estava hospedado na alameda Bar�o de Limeira e foi atr�s do seu gal�.

    Estava assim tudo arranjado para que o astro voltasse ao anonimato tranquilamente, e a s�rie de manchetes sobre Pelez�o se encerrou em 24 de setembro de 1984. Menos de seis meses depois, por�m, na edi��o de 12 de janeiro do ano seguinte, os f�s se decepcionaram ao saber que Pelez�o estava de volta �s ruas, sem emprego e sem mulher.

    O propriet�rio da cantina no Bexiga revelou que, durante o m�s em que trabalhou ali, Pelez�o pegou no batente mesmo apenas quatro ou cinco noites e criou alguns constrangimentos para as clientes. Indagado sobre o comportamento do ex-�dolo das madames, o empres�rio se esquivou: "Basta que eu diga que ele estava sempre embriagado".

    Para piorar, em julho daquele ano, Paulo foi preso por tentar roubar o r�dio de pilha de uma enfermeira na Santa Casa de Miseric�rdia. �quela altura, o gal� n�o tinha mais nada al�m de um par de sapatos, duas camisas e um palet� surrado. Na cadeia, por�m, teve um breve momento de alegria quando um taxista levou para ele um bilhete de amor, que dizia:

    Folhapress'
    Carta recebida por Pelez�o, que estava detido por roubo
    Carta recebida por Pelez�o, durante o per�odo em que ele esteve detido ap�s tentar roubar um r�dio de pilha na Santa Casa

    "Meu pret�o querido: nessas noites de inverno eu me recordo de voc�. E sinto falta do seu corpo ardente, quase fervendo. Ah, meu pret�o, eu n�o vou te esquecer nunca. Vai fazer um ano. Voc� sabe muito bem quem sou. N�o vejo a hora de voc� sair, meu Pelez�o."

    Tudo indicava que era uma carta da psic�loga D.M.Z., mas o assunto morreu a�. E as madames ouviram falar de Pelez�o pela �ltima vez em 1986, quando o jornal descobriu que o ex-astro optara novamente pelo crime e fora preso roubando a casa de um professor no Ipiranga. Em 7 de outubro, lia-se numa p�gina do "Not�cias Populares": "Pelez�o � um novo h�spede do pres�dio do Hip�dromo". Da� em diante, nem seus colegas na fila da Cetren souberam mais do paradeiro do �dolo.

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