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"Coração de atleta" pode aparecer em quem treina em ritmo muito elevado

Cardiologista fala sobre a importância da avaliação em competidores profissionais e amadores e afirma que até hoje muitas dúvidas ainda surgem a respeito deste tema

Por São Paulo

Desde o início do ano, as avaliações pré-temporada feitas mostraram um perfil de adaptações incríveis, tanto nos atletas profissionais como amadores de alta performance. Como cardiologista e médico do esporte já me deparei com dúvidas que necessitam de mais investigações e exames sofisticados. Mesmo assim, surgem fortes discussões médicas, todos querendo deixar a opinião como a melhor e definitiva sobre o chamado "coração de atleta".

Para exames e treinos seguros, exija a presença de médicos e treinadores 

Depois de mais de 40 anos examinando esportistas e atletas de todas as idades, aprendemos que nunca devemos dar um voto final em medicina. O maior problema tem sido definir se as alterações são cardiopatias silenciosas ou adaptações extremas e fisiológicas. Muitas alterações, que alguns médicos consideraram como um diagnóstico fechado de cardiopatia, após períodos variáveis de descondicionamento físico ou mesmo novos tratamentos, tiveram a análise modificada para encerramento de carreira.

Coração de atleta euatleta (Foto: IStock Getty Images)Coração de atleta pode atingir quem treina em ritmo intenso; médico do esporte fala sobre o tema (Foto: Getty Images)


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São poucos os casos no Brasil que encerraram a carreira! Muitas doenças cardíacas tiveram modificados seu prognóstico porque temos que ter muito cuidado ao sugerir o fim de uma profissão esportiva sem certeza absoluta. Evidente que a medicina não é matemática nos resultados, mas mesmo baseados na experiência e nos modernos exames atuais, como da ressonância magnética do coração, e nos iniciais estudos do genoma humano não atingimos a certeza absoluta nem do risco zero.

Que atividade posso praticar? 

Recentes casos de futebolistas mostraram isso. Alguns médicos ao afastarem definitivamente um jogador da sua profissão, se esquecem exatamente disso, da falta de certeza diagnóstica e cortam uma carreira profissional. A nossa visão depois de tantos anos e atletas examinados nos mostra que nunca se tem certeza absoluta do diagnóstico e prognóstico. O médico não é o dono da verdade absoluta.

Um exemplo marcante, a temida cardiomiopatia hipertrófica no seu estado inicial ou moderado, pode ser totalmente sem sinais e sintomas de complicações naquele momento, sendo seu risco menor de 2% ao ano. Em 2008, o jogador de basquete Cuttino Mobley, da NBA, teve esse diagnóstico e foi afastado da profissão. Anos depois, ele entrou com processo de indenização de milhões de dólares contra o médico que o afastou, porque o jogador perdeu a profissão rentável e nunca teve uma complicação ou deterioração cardíaca até aquele momento.

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Conclusão: o coração de atleta, que pode aparecer em quem treina em ritmo elevado, tem alterações do eletrocardiograma e como característica a volta ao padrão de coração normal após período de "destreinamento" entre 90 a 180 dias. Porém, caso seja considerado cardiopata, devemos aguardar meses para se encerrar sua carreira. Anos atrás, acompanhei um conhecido jogador do Palmeiras, que tinha tido miocardiopatia, e outros médicos o afastaram em definitivo. Nós, porém, decidimos destreiná-lo e o acompanhamos até a cura total em 24 meses. Agora joga na principal equipe do México e disputou o mundial interclubes em dezembro do ano passado.

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*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com

EuAtleta Nabil Ghorayeb Cardiologia Especialista (Foto: EuAtleta)



NABIL GHORAYEB
Formado em medicina pela FM de Sorocaba PUC-SP, Doutor em Cardiologia pela FMUSP , Chefe da Seção CardioEsporte do Instituto Dante Pazzanese Cardiologia, Especialista por concurso em Cardiologia e Medicina do Esporte, Médico Sênior do Grupo Fleury Medicina e Saúde, Coordenador da Clínica CardioEsporte do HCor, CRM SP 15715 , Prêmio Jabuti de Literatura Ciência e Saúde. www.cardioesporte.com.br