Serafina
Rico Dalasam oxigena o rap brasileiro com discurso de autoaceita��o
"N�o posso esperar/ Mais dez, quinze anos/ Pra dizer como eu amo". Esses s�o os versos de abertura do EP "Modo Diverso", lan�ado no in�cio de 2015 por Rico Dalasam, 26. Mais do que expressar sua homossexualidade nas letras, o rapper oferece, com seu discurso de autoaceita��o, um lugar a quem, como ele, sente-se deslocado.
Misto de grito de liberdade e declara��o de amor, "N�o Posso Esperar" foi escrita numa tacada s�. Das cinco faixas que integram o EP, essa � a que Rico mais gosta. "Foi um desabafo", diz.
�rico Toscano | ||
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T�mido e espalhafatoso, Rico Dalasam atualiza os paradigmas do rap com discurso de autoaceita��o |
O refr�o em ingl�s e a batida que lembra a dance music dos anos 1990 foram adicionados � can��o para deixar a faixa mais dan�ante, conta Rico, j� que a letra segue a genu�na estrutura de um rap: a realidade vivida pelo MC, expressa na cad�ncia das rimas.
O rapper passou a inf�ncia e a adolesc�ncia dividido entre os dois lados do rio Pinheiros. Nascido e criado em Tabo�o da Serra, na Grande S�o Paulo, s� conheceu o ensino particular. Determinada a coloc�-lo em uma boa escola, sua m�e costumava visitar as diretorias pleiteando bolsas integrais. Sempre obteve �xito.
Desde os seis anos, frequentou v�rias institui��es: "Nunca me adaptava". Foi durante a passagem por um tradicional col�gio alem�o da zona sul de S�o Paulo, que a diferen�a entre o seu dia a dia em Tabo�o e as f�rias dos colegas na Europa ficou n�tida. "Quando a vida te prep�e um deslocamento, voc� vai l�, v� o que � melhor, s� que l� n�o � o seu lugar. A�, voc� volta para o lado de c�, v� o que � pior, e � o lugar que voc� n�o quer mais. J� era, voc� j� n�o � mais de lugar nenhum".
O ensino m�dio foi pago por ele, com o dinheiro que j� ganhava como cabeleireiro, na trilha de seu irm�o mais velho, que fez quest�o de custear as aulas de viol�o, ingl�s e nata��o do ca�ula.
"Saio nas ruas, reparo nas dona/ Gola rol�, saia god�". O interesse por moda, faculdade que chegou a cursar por um ano, vem "desde sempre", afirma. Ainda crian�a, desenhava roupas, vestia-as do avesso, cortava, tingia. Para ele, "era um jeito de construir um lugar de m�nimo conforto, uma vez que voc� n�o acha nada confort�vel".
Durante a temporada de shows que fez nos EUA e no Pa�s de Gales, em agosto, Rico causou frisson ao visitar o Afropunk, festival de artes e m�sica em Nova York. Foi o �nico brasileiro a integrar a sele��o dos melhores looks do evento, em uma mat�ria da "Vogue" americana.
Dos 17 anos aos 21, frequentou religiosamente a Batalha do metr� Santa Cruz, onde jovens de todas as regi�es de SP defendiam suas rimas. "A cada s�bado, voltava para casa mais MC."
Naquela �poca, suas letras ainda n�o se pareciam em nada com "S� Por Voc�", do veterano Xis, a m�sica que o fez perceber que poderia ser "mais sentimental". Jefferson Ricardo Silva j� era Rico, mas n�o Dalasam —sigla do lema que criou para si, algum tempo depois (Disponho Armas Libert�rias A Sonhos Antes Mutilados).
Em 2014, deu o primeiro salto ao adiantar o lan�amento, com um clipe glamoroso dispon�vel no YouTube, de "Aceite-C", faixa do EP que conta com um sample de "O Mais Belo dos Belos", hit de Daniela Mercury, cujo refr�o bem que poderia ter sido escrito por Rico: "N�o me pegue, n�o/ Me deixa � vontade."
Para 2016, Rico pretende ir mais longe: ajudar� a comandar dois trios el�tricos no Carnaval de Salvador e se prepara para lan�ar seu primeiro disco de est�dio, ainda no primeiro semestre.
"Vale mais amar, seja como for/ Tortura � viver em falsos grilh�es." Rico Dalasam comp�e todos os dias, anotando os versos no bloco de notas de seu iPhone, e registra os beats que faz com a boca no gravador do celular.
Nas postagens quase di�rias que faz nas redes sociais —j� soma mais de 11 mil seguidores no Instagram— recebe coment�rios de f�s de todo pa�s. E faz quest�o de dizer que os admira.
Muitos s�o adolescentes negros, gays e moradores de periferia, que dan�am como se n�o houvesse amanh� ao som do Fervo do Dalasam —� assim que o rapper chama seus shows.
Uma liberdade que Rico gostaria de ter sentido mais cedo, mas que agora briga para viver em estado pleno. "Esse n�o-lugar me levou para muitos lugares. O incr�vel do n�o-lugar � que ele � igual � nuvem, igual ao iCloud: eu me sinto uma pessoa de l�, porque estou aqui, mas n�o sou daqui, e estou l�, mas n�o sou de l�. Sou da nuvem, mano".
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