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02/11/2014 - 02h00

Ex-presidi�rio do Carandiru vira empreendedor e investe em Miami

BRUNO BENEVIDES
DE S�O PAULO

O paraense Sila da Concei��o, 63, saiu de casa aos sete anos e aos 19 virou batedor de carteiras em Bel�m. Depois de ser preso e passar pelo Carandiru, abandonou o crime e se tornou empreendedor. Hoje � dono de uma frota de t�xis em Bel�m e Manaus e de uma empresa de im�veis em Miami, para onde pretende se mudar com a mulher. Contou sua vida no livro "Danem-se os Normais" (Casa da Palavra).

*

Eu n�o sou normal. Entre 19 e 29 anos eu vivia de bater carteira. Nessa �poca eu tinha uma conta em banco chamada "habeas corpus", que usava para me livrar da pris�o quando era pego. A� pensei: "Se com essa determina��o, com essa disciplina, eu come�ar a trabalhar s�rio, s� vai dar eu".

Sou um cara que n�o sabe nem ler nem escrever, mas tenho 13 im�veis na Fl�rida e uma frota de cem t�xis em Bel�m e Manaus. E mais 50 em Fortaleza que um filho cuida.

Eu roubava carteira desde os 19 anos em Bel�m do Par�. Tinha sa�do de casa aos sete anos, morei na rua, embaixo de viaduto e no mercado Ver-o-Peso. Aos 14 comecei a sair com prostitutas.

Tinha gente que matava, um monte de coisa, mas eu s� batia carteira. Vim para S�o Paulo para ganhar respeito, virar refer�ncia, mas acabei preso. Fui duas vezes para o pres�dio do Carandiru.

Nessa �poca tinha muita superlota��o. Cabiam 7.000 pessoas e tinham 10 mil. Foi a� que decidi deixar o crime.

Peguei minhas coisas, reuni alguns dos meus filhos e voltei para Bel�m. Eu tenho nove filhos, o mais novo tem 36 anos e hoje est�o todos bem. Eu fiz muita burrada quando era mais novo, tive muitas mulheres, mas hoje estou casado.

Eu tamb�m levei minha m�e de volta para Bel�m, ela sempre me acompanhou. Quando roubei pela primeira vez, levei para ela o dinheiro, porque queria tirar ela daquela situa��o.

Fico muito emocionado quando falo da minha m�e, ela morreu h� seis meses, que Deus a tenha.

Tudo o que fiz foi para ajud�-la: entrar no crime, sair do crime, largar as drogas. Eu usei tudo. At� crack. S� consegui parar em 2000. Estou h� 14 anos limpo.

Quando voltei para Bel�m, em 1979, trabalhei em um mercado de peixe e juntei dinheiro para comprar um Fusca. Virei taxista. E coloquei na minha cabe�a: vou ter uma frota de dez carros. Consegui. Depois, queria ter 50. A� pulei para 100. Muita gente da pol�cia e da Justi�a acreditava que eu n�o ia ser um trabalhador honesto, sempre seria um ladr�o. Eu sempre digo: tudo que o homem quer, o homem consegue.

Meu sonho agora � ganhar a cidadania americana e morar em Miami. Estou investindo l� por isso. Compro, reformo e alugo os im�veis. Eu sou como um c�o farejador e sinto as oportunidades.

Dentro do crime eu aprendi muita coisa. Eu trouxe a experi�ncia de sofrimento e a vis�o agu�ada.

Quando voc� coloca a m�o no bolso de algu�m para roub�-lo, voc� n�o olha para ele. Voc� v� as pessoas em volta, para ver se pode, se ningu�m est� vendo. � um sentido a mais que eu tenho.

Tamb�m aprendi na pris�o a conviver com o ser humano, bom ou ruim. O ser humano � a mola do mundo.

Tem humano nos Estados Unidos, em Bel�m, em S�o Paulo e na pris�o. � esse o segredo do meu trabalho, eu vejo o ser humano, leio a mente dele.

Davi Ribeiro/Folhapress
O paraense Sila da Concei��o, dono de uma companhia de t�xi e de apartamentos em Miami
O paraense Sila da Concei��o, dono de uma companhia de t�xi e de apartamentos em Miami
 

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